19.5.09

Raças de cães

De raça


      «Usava a desculpa de ir passear a cadela da Avó, uma velha Labrador chamada Sophie; tinha sido rejeitada como cão-guia pela escola local para cegos e viria a provar ser melhor amiga do que a maioria das pessoas que conheci em Bolton» (Filho de Ninguém, Michael Seed. Tradução de Mário Matos e revisão de Luís Milheiro. 3.ª ed. Lisboa: QuidNovi, 2008, p. 101). «Tinha um cão, um Yorkshire terrier preguiçoso e mal-humorado que frequentemente soltava gases numa explosão sonora de maus odores» (p. 124 da mesma obra). Erro muito vulgar, este. Estamos perante uma metonímia, pelo que a referência a um particular membro da espécie será grafada com minúscula inicial: «uma velha labrador chamada Sophie» e «um yorkshire terrier preguiçoso e mal-humorado».
      Aproveito para dizer que não é, ao contrário do que li recentemente, o mesmo processo que nos obriga a escrever «bebi um porto excelente» ou «tenho em casa um picasso». Na edição de sexta-feira passada do Jornal Económico, num texto assinado por Anabela Mota Ribeiro («“Je dessinais comme Raphaël”», pp. 10-12), lia-se o seguinte: «E voltamos ao princípio, ao artista [Picasso] que pinta como Rafael. Àquele que faz comentários deste calibre sobre os intocáveis da História da Pintura: “As pessoas estão sempre a falar do Renascimento — mas é patético! Vi recentemente alguns Tintorettos. E não são mais do que cinema, cinema barato!”» Devia estar escrito «tintorettos».


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