Língua arruinada
«Fachada de prédio rui sem causar feridos» (Destak, 7.05.2009, p. 4). Está correcta aquela forma verbal, «rui»? O verbo ruir é defectivo, ou seja, raramente se conjuga em todas as formas do paradigma (quer dizer, do modelo de conjugação) a que pertence.
Na semana passada, uma consulente do Ciberdúvidas, Alda Durães, tradutora, quis saber se podia usar a forma verbal rui ou se devia substituí-la por está a ruir. Para espanto meu, o consultor, Carlos Marinheiro, afirmou que «de qualquer modo, a forma usual é “está a ruir” (“O prédio está a ruir”)». É? Esperava que o consultor, dada a pouca frequência do uso daquela forma verbal, aconselhasse o uso de outro verbo sinónimo não defectivo, como desmoronar-se. Conjugado da forma perifrástica que o consultor aconselha, dá ideia que o acto de ruir nunca se concretiza, é sempre apenas uma ameaça. Experimentem substituir «rui» por «está a ruir» na frase com que inicio este texto: «Fachada de prédio está a ruir sem causar feridos.» Isto tem algum sentido? Agora comparem a forma verbal aconselhada com o fecho da notícia: «A derrocada afectou um semáforo e barricou a estrada.»
A forma verbal rui, que pertence ao presente do indicativo, está por outra, ruiu, que pertence ao pretérito perfeito simples, habitualmente um marcador linguístico de valor perfectivo (o consultor errou). Ora, o valor aspectual transmitido pela perífrase verbal (verbo auxiliar + preposição a + verbo principal) veicula uma ideia de acção durativa que decorre num momento específico (o consultor está a dormir).
«Fachada de prédio rui sem causar feridos» (Destak, 7.05.2009, p. 4). Está correcta aquela forma verbal, «rui»? O verbo ruir é defectivo, ou seja, raramente se conjuga em todas as formas do paradigma (quer dizer, do modelo de conjugação) a que pertence.
Na semana passada, uma consulente do Ciberdúvidas, Alda Durães, tradutora, quis saber se podia usar a forma verbal rui ou se devia substituí-la por está a ruir. Para espanto meu, o consultor, Carlos Marinheiro, afirmou que «de qualquer modo, a forma usual é “está a ruir” (“O prédio está a ruir”)». É? Esperava que o consultor, dada a pouca frequência do uso daquela forma verbal, aconselhasse o uso de outro verbo sinónimo não defectivo, como desmoronar-se. Conjugado da forma perifrástica que o consultor aconselha, dá ideia que o acto de ruir nunca se concretiza, é sempre apenas uma ameaça. Experimentem substituir «rui» por «está a ruir» na frase com que inicio este texto: «Fachada de prédio está a ruir sem causar feridos.» Isto tem algum sentido? Agora comparem a forma verbal aconselhada com o fecho da notícia: «A derrocada afectou um semáforo e barricou a estrada.»
A forma verbal rui, que pertence ao presente do indicativo, está por outra, ruiu, que pertence ao pretérito perfeito simples, habitualmente um marcador linguístico de valor perfectivo (o consultor errou). Ora, o valor aspectual transmitido pela perífrase verbal (verbo auxiliar + preposição a + verbo principal) veicula uma ideia de acção durativa que decorre num momento específico (o consultor está a dormir).
2 comentários:
Hélder!
Agradou-me muito este teu canto!
Sou admiradora da língua portuguesa e ainda mais de quem a divulga como tu!
Grande abraço!
Ainda assim, é uma forma que aparece nos autores consagrados:
"Soltando o pano à majestosa lira,
Imenso rui Elpino
Pelos mares do Oriente"
Almeida Garrett, “A um Jovem Poeta”, in Lírica de João Mínimo (1829).
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