25.6.09

Sobre «marchante»

Marchand des quatre-saisons

O filho de David Kepesh, o protagonista de O Animal Moribundo, de Philip Roth (Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2008. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão de Manuela V. C. Gomes da Silva, p. 11), tem uma empresa de restauração de obras de arte. Diz-lhe o pai: «Conheces todos esses artistas. Conheces todos esses marchantes» (p. 76). Algo nos escapou. Mas a empresa não é de restauração de obras de arte? Nos dicionários que conheço, marchante é aquele que negoceia em gado para os açougues ou talhos. Já alguém me dirá que «neste caso nem é uma palavra nova, é uma apropriação natural de significante para um significado». Pois é, mas o problema nem é esse, mas o leitor desconhecer a intenção (nem todos somos leitores especializados, revisores ou professores universitários, não é?) do tradutor.
O galicismo marchand configura um caso muito interessante. Na língua francesa tem um sentido abrangente de «comerciante»; entre nós (e o mesmo se passa no âmbito do espanhol), usamo-lo para designar apenas o comerciante de obras de arte.

4 comentários:

Anónimo disse...

Neste caso é um galicismo afectado de homonímia.

De qualquer modo, se perguntar a um Prates ou colega o que ele é, já lhe dirá com toda a naturalidade que é um marchante.

Pode portanto dicionarizar-se.

Helder Guégués disse...

Se isso fosse assim, os dicionários ainda teriam mais disparates.

Anónimo disse...

Lá voltamos ao mesmo... mas não andamos todos a falar apenas disparates? Senão tínhamos de falar em latim, isto considerando que o latim não é ele próprio um disparate.

Helder Guégués disse...

Fale por si.