11.7.09

Idiomatismos

Na ponta da língua

      Na tradução, como se sabe, é preciso ter um cuidado especial com as fusões fraseológicas ou idiomatismos, pois são combinações de palavras que, devido a seu constante uso, perdem a independência e adquirem um sentido global diferente das palavras isoladamente consideradas. Primeiro é preciso identificar a sequência como um idiomatismo (e nem sempre isso acontece), e depois encontrar uma correspondência adequada, habitualmente com recurso aos dicionários bilingues, que, por vezes, apresentam apenas uma definição ou uma explicação da expressão idiomática e não o seu equivalente na língua de chegada, contribuindo assim para que o tradutor não restitua o valor metafórico. Há, contudo, surpreendentes correspondências idiomáticas interlínguas, e é destas que eu queria falar, e não (pelo menos hoje) dos defeitos dos dicionários. Estou aqui a ler a obra Onde Deixei os Meus Óculos?, de Martha Weinman Lear (Porto: Porto Editora/Ideias de Ler, 2008, com tradução de Jorge Beleza) e, a propósito do idiomatismo inglês tip of the tongue (na ponta da língua), a autora escreve: «Quanto a nós, deixe-me dizer-lhe que, em termos de tip of the tongue, estamos por toda a parte. Os italianos dizem sulla punta della lingua; os espanhóis al punto de la lengua; os franceses, que normalmente não gostam de dizer nada como os outros, soam exactamente como todos os outros quando dizem sur le bout de la langue; os suecos dizem jag har det pa tungan, os croatas na vrhu jezika mi je e os holandeses op het puntje van mijn tong — só Deus sabe como o pronunciam mas, e isto é o que importa, todos descrevem exactamente a mesma sensação exactamente da mesma maneira» (p. 11). Nunca li ou ouvi al punto de la lengua. ¡Lo tengo en la punta de la lengua!, ouço os Espanhóis dizerem. Vejam isto.

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