10.7.09

Tradução: «half-proof»


Ao acaso

      Os Romanos diziam, e o brocardo alguma vez me deve ter passado pelos olhos, coniectura est semiplena probatio, isto é, a conjectura é metade da prova. Prova semiplena era a que, por si só, não era suficiente para fundar a decisão de uma causa. Havia mesmo, a partir de certa altura, um sistema de tarifamento das provas, pelo qual se sabia quantas provas semiplenas formariam uma prova plena. Estou agora a rever uma obra sobre como o acaso rege a nossa vida (The Drunkard’s Walk — How Randomness Rules Our Lives. Nova Iorque: Pantheon Books, 2008, a sair brevemente pela Editorial Bizâncio e com tradução de Luís Leitão), da autoria do físico Leonard Mlodinow, em que leio o seguinte: «A regra que acabámos de utilizar podia ser aplicada à regra romana das semiprovas: as probabilidades de duas semiprovas independentes estarem erradas é de 1 em 4, pelo que duas semiprovas constituem três quartos de uma prova, e não uma prova completa. Os Romanos somavam onde deviam multiplicar» (p. 49). Aposto que muitos leitores meus (e penso logo em Fernando Ferreira, Paulo Araujo e em R. A.) irão gostar desta obra, que acho excelente.
      Para justificar a classificação deste texto: sim, half proof (ou half-proof) traduz-se por semiprova e não, como se poderia afigurar, por meia prova, por exemplo.

      Eis um excerto da obra: «Qual é maior, o número de palavras inglesas de seis letras, sendo a quinta um n, ou o número de palavras inglesas de seis letras que terminam em ing? A maioria das pessoas escolhe o grupo de palavras que terminam em ing. Porquê? Porque é mais fácil pensar em palavras que terminam em ing do que em palavras genéricas de seis letras em que o n é a quinta letra. Mas não é preciso irmos vasculhar no Oxford English Dictionary — ou mesmo saber contar — para demonstrar que a resposta está errada. Com efeito, o grupo de palavras de seis letras contendo o n como quinta letra inclui todas as palavras de seis letras que terminam em ing. Os psicólogos chamam a este tipo de erro “enviesamento de disponibilidade” [availability bias], dado que, quando reconstituímos o passado, damos uma importância injustificada a recordações que são mais vivas e, por isso, mais disponíveis para a recuperação» (p. 42).

3 comentários:

Anónimo disse...

Tem razão, caro Helder: o livro interessa-me, e comprá-lo-ei logo que esteja disponível.
Quanto a este assunto em particular, devo dizer que, em física, costumamos usar, indistintamente, ambos os termos «semivida» e «meia-vida» (de um isótopo radioactivo). A semivida é o tempo necessário para que metade da massa do isótopo se desintegre. Como docente, a minha preocupação habitual é a de que os alunos não confundam «semivida» (ou «meia-vida») com «vida média». Esta última é o tempo médio que o isótopo demora a desintegrar, isto é, a média aritmética dos tempos de vida do isótopo.
A semivida é cerca de 70 % da vida média; o factor exacto que relaciona as duas é o logaritmo natural de 2.

Anónimo disse...

Peço desculpa: esqueci-me de assinar o anterior comentário.

Fernando Ferreira

Helder Guégués disse...

Obrigado pelo seu contributo, caro Fernando Ferreira.