27.7.09

Tradução: «off-label»


Quase muito bom


      A propósito do problema ocorrido no Hospital de Santa Maria com o uso do medicamento Avastin, ouvi duas vezes na Antena 1 na semana passada que o fármaco estava a ser administrado «off-label». Assim, sem qualquer explicação. Só para entendidos. Nos jornais, a prática foi diferente. «Como é que um medicamento indicado para uma doença pode ser usado para tratar outra? Esse outro uso chama-se off-label. Antes da sua introdução no mercado, cada fármaco é submetido a ensaios clínicos, em condições muito controladas, nos quais se provam no ser humano a sua segurança e eficácia. Quando as entidades responsáveis pelos medicamentos aprovam a sua prescrição para uma certa doença, os médicos podem decidir usá-lo para outras, com base na sua experiência e na da comunidade médica internacional» («O que é o off-label?», T. F., Público, 24.07.2009, p. 8). «É um alerta sobre uma situação que conhecemos desde o princípio: que o fármaco, à semelhança de muitos outros em quase todas as áreas médicas, tem sido utilizado off label [para indicações clínicas diferentes das autorizadas]», afirmou ao Expresso o presidente da Comissão de Farmácia e Terapêutica do Hospital de Santa Maria, Germano do Carmo («Hospitais são lugares perigosos», Cristina Bernardo Silva e Joana Pereira Bastos, Expresso, 25.07.2009, p. 4). «Segundo Florindo Esperancinha, que continua a defender o medicamento pela sua “elevada eficácia a salvar milhões de doentes da cegueira em todo o mundo”, tanto o Avastin como o Lucentis não têm indicação terapêutica para tratar a retinopatia diabética, sendo que este último está apenas indicado para terapia da degeneração macular da idade. Ou seja, os dois estavam a ter uma prescrição off-label, fora da sua indicação específica, o que, relembra, é uma prática comum em todas as especialidades, em todo o mundo» («Suspensão do ‘Avastin’ afecta 20 mil doentes», Carla Aguiar, Diário de Notícias, 26.07.2009, p. 16). Na página na Internet da RTP, ensaiou-se uma verdadeira tradução e não apenas uma explicação: «O uso de medicamentos “off-label” (extra-bula), como os administrados no Hospital Santa Maria para tratamentos oftalmológicos, apesar de serem autorizados para o cancro, é “legal”, “muito frequente” e permite “salvar vidas”, disse à Lusa um especialista.» Por ser apenas uma palavra (que na realidade se deverá grafar extrabula, pois o prefixo extra- apenas se liga por hífen ao elemento seguinte quando este tem vida à parte e começa por vogal, h, r, ou s), agrada-me a solução da RTP. Muito melhor do que esta: «O uso “off-label” de medicamentos na medicina é uma prática que se consolida cada vez mais. Mas o que é “uso off-label”? Uma tradução objectiva seria o “Uso Não-Indicado Em Bula”.» Mesmo no ProZ, é sugerida mais uma explicação do que um termo português: «Off-Label use (Utilização em indicações não aprovadas).»

Actualização em 28.07.2009

      Estranhamente, no Correio da Manhã ainda estão a tentar encontrar a tradução, e a tentativa não é das melhores: «O bevacizumab não tem autorização para o tratamento oftalmológico, mas os médicos alegam “ser o mais eficaz” e é normal na melhor prática clínica usar medicamentos sem autorização (“off label”)» («Considerado eficaz», texto de apoio a «Cegos voltam ao bloco operatório», Cristina Serra, Correio da Manhã, 26.07.2009, p. 16).

Actualização em 3.08.2009

      A imprensa vai ensaiando outras formas de explicar o que significa off-label: «Neste caso, em ambos os fármacos [Lucentis e Avastin], é um uso que não está especificado na sua bula (uso off-label)» («Hospital de Santa Maria sem seguro para indemnizar doentes», Mariana Oliveira, Público, 30.07.2009, p. 10).

Sem comentários: