20.8.09

Dupla grafia

Andar às aranhas

      Ontem, os outros dois revisores estranhavam (e eu estranhei que estranhassem, pois nunca falam de questões ligadas com a língua) que no âmbito do novo acordo ortográfico se deva (deve?) escrever «veredicto» e «perfeccionista». Ou seja, estranhavam que não percam o c. A última nunca ali tinha sido discutida, mas «veredicto» aparece todos os dias e todos os dias jornalistas e editores perguntam, estranhando, se leva mesmo c. São convicções formadas a partir das fontes que se consultam. Tanto num caso como no outro, estamos perante duplas grafias. Sendo o critério da pronúncia o que determina a supressão gráfica das consoantes mudas e também o que leva a que o Acordo Ortográfico de 1990 tenha mantido um certo número de grafias duplas (embora os dicionários que adoptaram as novas regras ortográficas nem sempre as registem), é necessário reflectir mais ponderadamente nas opções por que se está a enveredar. A meu ver, falta concretizar esta precaução constante do texto do acordo: «Os dicionários da língua portuguesa, que passarão a registar as duas formas em todos os casos de dupla grafia, esclarecerão, tanto quanto possível, sobre o alcance geográfico e social desta oscilação de pronúncia.» Creio, contudo, que nunca veremos esta informação nos dicionários.

1 comentário:

Paulo Araujo disse...

O dicionário da Porto Editora coloca 'veredicto' como variante de 'veredito' e o novo Houaiss faz exatamente o oposto. Acredito que esta já é a forma que cada um encontrou para abordar (contornando)o 'alcance geográfico' exigido pelo texto do AO. Ser mais específico que isto, mencionando região ou país onde se usa tal ou qual variante, acaba sempre acarretando uma certa dose de imprecisão.