Título de uma rubrica do Correio da Manhã
Pôr os pontos nos…
Ontem, a discussão entre dois revisores era sobre a forma de pluralizar o nome da letra i: ii ou is? Um afirmava ter lido «não sei onde» (isto é que é um argumento de autoridade!) que correcto é ii. Podia ter sido em muitos sítios. O Dicionário Houaiss regista como plural da nona letra do nosso alfabeto ii. E no Ciberdúvidas, a propósito da mesma questão, é citado o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida (Livraria Ciência e Tecnologia Editora, São Paulo), em que se pode ler: «Quando quisermos declarar que numa palavra existe certa letra dobrada, escrevamos dois aa, dois ee, dois ii (e não “dois ás”, “dois és”, “dois is”), pingo nos ii (e não “pingo nos is”). De igual forma: Tal palavra tem dois ss (e não: Tal palavra “tem ss” — nem:... “tem dois s”). Sem o cardinal, deveremos ler, simplesmente, /ésses/, como nas orações: fazer ss, andar aos ss (andar tortuosamente).» Já Hélio Consolaro, no Por Trás das Letras, tem outra certeza: «O plural das letras se faz de duas maneiras, indiferentemente: os 5 ss/os 5 esses, os aa/os ás, pingo nos ii/pingo nos is.» O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, também regista na página 2014: «Pl. ii ou is.» Mas o plural do nome desta vogal não é excepção, pois este dicionário regista uu ou us como plural de u; oo ou ós como plural de o; ee ou és como plural de e; e aa ou ás como plural de a. Para o Dicionário Houaiss, pelo contrário, o plural das vogais apenas se faz por duplicação: aa, ee, ii, oo, uu. Nas consoantes, por seu lado, tanto se faz por duplicação — bb, cc, dd… — como pela marca do plural no nome da letra — bês, cês, dês, efes… Por uma vez, estou de acordo com a opção do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.
Actualização em 8.2.2010
Vejam este erro num livro: «Nesta carta vou pôr os pontos nos iis» (Inocente, Not Guilty, Patrícia Lucas e Nicolas Bento. Revisão de Manuel Henrique Figueira. Alfragide: Academia do Livro, 2010, p. 171).
Pôr os pontos nos…
Ontem, a discussão entre dois revisores era sobre a forma de pluralizar o nome da letra i: ii ou is? Um afirmava ter lido «não sei onde» (isto é que é um argumento de autoridade!) que correcto é ii. Podia ter sido em muitos sítios. O Dicionário Houaiss regista como plural da nona letra do nosso alfabeto ii. E no Ciberdúvidas, a propósito da mesma questão, é citado o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida (Livraria Ciência e Tecnologia Editora, São Paulo), em que se pode ler: «Quando quisermos declarar que numa palavra existe certa letra dobrada, escrevamos dois aa, dois ee, dois ii (e não “dois ás”, “dois és”, “dois is”), pingo nos ii (e não “pingo nos is”). De igual forma: Tal palavra tem dois ss (e não: Tal palavra “tem ss” — nem:... “tem dois s”). Sem o cardinal, deveremos ler, simplesmente, /ésses/, como nas orações: fazer ss, andar aos ss (andar tortuosamente).» Já Hélio Consolaro, no Por Trás das Letras, tem outra certeza: «O plural das letras se faz de duas maneiras, indiferentemente: os 5 ss/os 5 esses, os aa/os ás, pingo nos ii/pingo nos is.» O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, também regista na página 2014: «Pl. ii ou is.» Mas o plural do nome desta vogal não é excepção, pois este dicionário regista uu ou us como plural de u; oo ou ós como plural de o; ee ou és como plural de e; e aa ou ás como plural de a. Para o Dicionário Houaiss, pelo contrário, o plural das vogais apenas se faz por duplicação: aa, ee, ii, oo, uu. Nas consoantes, por seu lado, tanto se faz por duplicação — bb, cc, dd… — como pela marca do plural no nome da letra — bês, cês, dês, efes… Por uma vez, estou de acordo com a opção do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.
Actualização em 8.2.2010
Vejam este erro num livro: «Nesta carta vou pôr os pontos nos iis» (Inocente, Not Guilty, Patrícia Lucas e Nicolas Bento. Revisão de Manuel Henrique Figueira. Alfragide: Academia do Livro, 2010, p. 171).
8 comentários:
PERFEITO! Com todos os 'efes' e 'erres'! Ou com todos os 'ff' e 'rr'!
O Dicionário da Academia registra as duas formas.
De fato, o plural pelo nome pluralizado das letras parece mais correto que o plural gráfico.
Aqui que ninguém nos ouve: o plural gráfico também me parece menos natural, mais forçado, quase um truque. Se as consoantes têm nome pluralizado, não vejo razão para não ser assim com as vogais.
Como ortograficamente (A.O. de 1945 e de 1990) as letras se escrevem á/ás, é/és, ó/ós, esse/esses, efe/efes, erre/erres, ene/enes, eme/emes, dáblio/dáblios, ípsilon/ipsílones, zê/zês, ... nós preferimos estas formas (um á, dois ás, três ás). Mas F. Rebelo Gonçalves no seu Vocabulário Ortográfico da L. P. (Coimbra Ed., 1966),além destas (um á, dois ás, três ás), também aceita a/aa (um a, dois aa, três aa), e/ee, i/ii, o/oo e u/uu.
Na minha opinião o plural gráfico dá margem a ambiguidades, pois as letrinhas dobradas podem ser interpretadas como símbolos, siglas ou até erros ortográficos. Isso sem contar que a pessoa que lê precisa "advinhar" o que dizer mentalmente: duplo erre, erre-erre, RRRR, etc (o que pode também acontecer com o plural ortográfico, pois não estamos acostumados a ler letras no plural — "esses" de -s ou "esses" pronome?). Diante desse dilema, eu prefiro usar o 's, como em inglês geralmente se usa (a's, t's, etc) ou escrever a letra em maiúscula, seguida de um -s (As, Ts, etc). Além de facilitar a pronúncia, por ser visualmente óbvio, economiza-se espaço.
gostaria de saber se a letra n também pode ser
pronunciada no plural.
se eu posso fala ela escreveu seu nome com dois ene ou
ela escreveu com dois enes.
Não pode — deve. «O nome dela tem dois nn (ou enes).»
Então é correto afirma que são dois enes?
Sem qualquer dúvida.
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