8.10.09

Prefixo re- no novo acordo

Mal pensado


      «Pode também re-endereçar mensagens entre duas contas» («Cem pessoas presas no caso das ‘passwords’», Pedro Fonseca, Diário de Notícias, 8.10.2009, p. 50). Temos de tudo: jornais que adoptaram (mais ou menos, como vimos) as regras do Acordo Ortográfico de 1990, jornais que respeitam estas regras apenas numa (!) coluna e jornais que, de vez em quando, escrevem certos vocábulos em conformidade com o acordo.
      É verdade que a alínea b), n.º 1, da Base XVI do Acordo Ortográfico de 1990 não exemplifica com o prefixo re- (e parece que os redactores do texto se esqueceram dele), mas, por analogia com os que ali são referidos, se o segundo elemento começar por e, deverá ser seguido de hífen. É o caso de re-endereçar. O que sucede é que o VOLP não seguiu a regra. Só verbos, vejam quantos sofreriam esta alteração: reedificar, reeditar, reeducar, reeleger, reembolsar, reencarnar, reencontrar, reentrar, reenviar, reerguer, reescalonar, reescrever, reestruturar, reestudar, reexaminar... Mas como regras são regras, o programa FLIP 7, que os computadores da redacção do Record têm instalado, mandam separar por hífen o prefixo re- quando o segundo elemento se inicia com a vogal e.

7 comentários:

Helena Neves disse...

Encontrei o seu blogue. li-o quase de uma ponta à outra e não resisto a colocar-lhe uma questão.

Vejo frequentemente a palavra 'espectro' utilizada no sentido de leque, como por exemplo:
a) O espectro político português...
b) Um largo espectro de iniciativas terá lugar..
c) Tens um espectro de alternativas para...

No dicionário não encontro esse sentido de 'espectro', dado que aparecem apenas os sentidos de 'assombração', 'fantasma', ou então relativo à dispersão de radiações compostas: espectro solar, espectro magnético, espectro de absorção, etc.

Julgo que a utilização que referi acima se trata de um extrapolação deste último sentido. A minha questão é se essa extrapolação é pertinente ou se, pelo contrário, se trata de uma má utilização do termo.

Agradecida.

Franco e Silva disse...

Há pelo menos dois casos de excepção das regras gerais de não-hifenização no A. O. de 1990, que mesmo os leigos detectam, o que permite perguntar o que os sábios estiveram a fazer em 1990 para os não referirem.
Um caso é aquele que muito bem comenta, o do prefixo RE- quando se segue palavra iniciado com E, em que o bom senso e a antiquíssima e estabilizada tradição vocabular justifica a fusão dos elementos (como em reeditar e reeleger » etc).
Outro caso é o do prefixo SUB- quando se segue um elemento vocabular iniciado por R ou B (sub-reptício, sub-roda, sub-base, sub-bibliotecário etc) em que o bom senso, a cimentada tradição vocabular e até a orientação de pronunciação justificam a sua manutenção.
Causa estranheza que conceituados linguistas aceitem a segunda excepção, mas não a primeira, «a contrario» do VOLP (ALB), que na nossa opinião muito bem, pontificaram como distracções as lamentáveis omissões da comissão luso-brasileira do A.O. e hifenizaram tais palavras.

Helder Guégués disse...

Cara Helena Neves,
A língua é feita pelos falantes. Essa acepção do vocábulo «espectro», por extensão de sentido, pode, naturalmente, usar-se. Quanto a não estar dicionarizada, é só uma questão de tempo, decerto.

Helder Guégués disse...

Caro Franco e Silva,
Não deixa de ser estranho, de facto. Só falta conhecermos o fundamento para tal.

Paulo Araujo disse...

Prezado Helder,
Quando os dicionários gerais, daí ou daqui, me faltam, apelo para o de usos; as acepções 6 e 7 (abonadas) do'Dicionário de Usos do Português do Brasil' acolhem 'espectro' como; 6 leque: Qualquer redução pode operar-se a partir de um amplo espectro de questões que o teatro coloca (ESP)- 7 raio de ação; alcance: A penicilina 6 é um antibiótico de pequeno espectro (ANT). Cada acepção desse dicionário, que toma por base a linguística descritiva sincrônica, é duplamente abonada em contextos extraídos da literatura romanesca, técnica, oratória e jornalística da segunda metade do século passado.

Paulo Araujo disse...

Quando a ABL lançou a primeira edição de seu dicionário escolar (NOV/2008),supervisionadopor Evanildo Bechara, registrou re-edificar, re-editar, re-educar, re-eleito e re-embolsar, re-enviar, etc..., depois corrigindo, sem hífen, na segunda edição. Agora, foi publicado o dicionário escolar do próprio Evanildo Bechara,com tudo isto sem hífen, obviamente. Esperemos que o Acordo de 2035 seja mais explícito.

Helder Guégués disse...

Caro Paulo Araujo,
Muito obrigado pelo seu contributo esclarecedor.