Picha-me aí essa parede
«As latas de spray no chão, junto à mochila, despertam olhares curiosos em alguns clientes do supermercado. Nomen vai preenchendo com tinta os espaços entre as linhas desenhadas na parede de betão que separa o parque de estacionamento da zona comercial do IC19. Desta vez não tem que se preocupar com a polícia, uma vez que está a graffitar muros do itinerário que liga Lisboa a Sintra por conta da Estradas de Portugal» («IC19 vai ter muros decorados com graffiti», Luís Filipe Sebastião, Público, 24.11.2009, p. 25). «Graffitar»? Se para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora grafitar é somente «revestir de grafite (a superfície de um objecto) para o tornar condutor eléctrico» ou «lubrificar com pasta de grafite», para o Dicionário Houaiss também é «executar grafites em; riscar, rabiscar, pichar». Mais um erro do Departamento de Dicionários da Porto Editora, tanto mais que regista, por exemplo, «grafiteiro», o «autor de grafitos». Erro, sim. Leiam o que escrevem Maria Helena Mira Mateus e Alina Villalva na obra O Essencial sobre Linguística (Lisboa: Editorial Caminho, 2006) sobre os dicionários: «A ausência de uma palavra num determinado dicionário não deve, pois, ser interpretada ligeiramente como indiciadora da sua inexistência: pode tratar-se de uma palavra que cai fora do escopo do dicionário; que, por erro, não foi incluída; ou, ainda, que não precisa de estar dicionarizada por ser um produto previsível dos recursos morfológicos disponíveis (como sucede com a maioria dos advérbios em –mente, como necessariamente, ou com diminutivos em –inho, como livrinho)» (pp. 85-86).
«As latas de spray no chão, junto à mochila, despertam olhares curiosos em alguns clientes do supermercado. Nomen vai preenchendo com tinta os espaços entre as linhas desenhadas na parede de betão que separa o parque de estacionamento da zona comercial do IC19. Desta vez não tem que se preocupar com a polícia, uma vez que está a graffitar muros do itinerário que liga Lisboa a Sintra por conta da Estradas de Portugal» («IC19 vai ter muros decorados com graffiti», Luís Filipe Sebastião, Público, 24.11.2009, p. 25). «Graffitar»? Se para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora grafitar é somente «revestir de grafite (a superfície de um objecto) para o tornar condutor eléctrico» ou «lubrificar com pasta de grafite», para o Dicionário Houaiss também é «executar grafites em; riscar, rabiscar, pichar». Mais um erro do Departamento de Dicionários da Porto Editora, tanto mais que regista, por exemplo, «grafiteiro», o «autor de grafitos». Erro, sim. Leiam o que escrevem Maria Helena Mira Mateus e Alina Villalva na obra O Essencial sobre Linguística (Lisboa: Editorial Caminho, 2006) sobre os dicionários: «A ausência de uma palavra num determinado dicionário não deve, pois, ser interpretada ligeiramente como indiciadora da sua inexistência: pode tratar-se de uma palavra que cai fora do escopo do dicionário; que, por erro, não foi incluída; ou, ainda, que não precisa de estar dicionarizada por ser um produto previsível dos recursos morfológicos disponíveis (como sucede com a maioria dos advérbios em –mente, como necessariamente, ou com diminutivos em –inho, como livrinho)» (pp. 85-86).
[Post 2837]
Actualização em 28.11.2009
«Convidaram alguns bons grafitters (eu cá preferia grafitistas ou grafitógrafos) para pintar (e não decorar) alguns muros. Acho bem. Acho que a única maneira de impedir os taggings mais feios (a que chamaria rubricas murais) é apelar ao gosto dos rubricadores e assinantes» («Em algo bonito», Miguel Esteves Cardoso, Público, 28.11.2009, p. 51).
2 comentários:
bem apanhado!
Uma pequena grande correcção se me permitem e uma aula gratuita até para aqueles que pensam que sabem...
A palavra graffiti que vem do tempo dos romanos e que significa como toda a gente sabe uma inscrição, desenho ou rabisco na parede, foi uma palavra usada e recriada pelos media do inicio dos anos setenta em Nova York para "catalogar" o fenómeno do tag e nomes em comboios.
Os autores dos mesmos sempre se intitularam entre eles como "writers" ou "taggers"- escritores
Nós proprios que fazemos graffiti
não nos auto intitulamos graffiters, (essa palavra é ridícula ponham por uma vez por todas na cabeça, que não existe e que é mais uma inventada pelos media, por ignorancia)mas sim writers ou escritores. A palavra graffitar é outra ridicula e que não existe e que não é reconhecida por quem escreve murais ou tags na parede.Nós escrevemos e pintamos os nossos nomes nas paredes, a isso recomendo que chamem quanto muito pintar ou escrever, ja que não nos querem pelos vistos chamar de artistas.
Afinal um pintor que pinta a pincel , chama se artista não se chama pinceleiro!.
Obrigado
Nomen
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