14.12.09

«Multirreligioso» ou «multi-religioso»?

Estávamos em 1998

      «No aniversário destas violências, a Igreja na Índia promoveu tempos de oração, vigílias e encontros culturais para defender a liberdade dos cristãos e para incitar a Índia a voltar a ser o país multi-religioso e multicultural que foi no passado.»
      O prefixo multi- não foi previsto no Acordo Ortográfico de 1945, logo, só por analogia poderemos dizer como se deve grafar. José Neves Henriques analisou bem a questão quando escreveu, em 1998, que «dos terminados em i, essa reforma menciona [na Base XXIX] anti, arqui, semi, seguidos de hífen, quando o elemento seguinte tem vida à parte e começa por h, i, r ou s, como por exemplo anti-infeccioso, arqui-irmandade, semi-interno. Por analogia com estes, embora não saibamos o que nos dirá uma futura reforma, podemos concluir que os prefixos maxi, bi, midi, mini, multi, poli [e pluri, por exemplo] são seguidos de hífen, quando o elemento seguinte tem vida à parte e começa por h, i, r ou s.» Logo, deveria escrever-se, não se esqueçam, multi-racial, multi-religioso, multi-riscos, multi-sectorial, etc. Infelizmente, em 1999, Neves Henriques já escrevia: «Para soar como o r de rua e de carro, temos de escrever multirracial e multirracionalidade.» O que nem sequer é verdade. O consultor aqui deixou-se enredar na pergunta, que era se se devia escrever «multiracial».
      No Acordo Ortográfico de 1990, contudo, este prefixo é expressamente referido (Base XVI, «Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação»), e o vocábulo continuará a escrever-se da forma como agora os dicionários a registam, dobrando a consoante. Até se inventou uma regra a partir do uso: com hífen «quando o segundo elemento possui vida própria e começa por h ou i: mega-híbrido, multi-idiomático» (sim, eu também não percebo o que está ali a fazer aquele «mega-híbrido»). Assim, nunca se erra: fazemos como nos parece e depois inventamos uma regra.

[Post 2902]

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