15.12.09

Ortografia: «patoá»

Desleixo

      «É por isso que o seu grupo de teatro Dóci Papiaçám di Macau — algo como “Doce língua (ou conversa) de Macau” — é uma espécie de reservatório de uma herança. Dos cerca de dez mil macaenses, apenas um milhar fala patuá, “mas não o tradicional”, ressalva [Miguel Senna Fernandes]» («Esta terra é nossa», Francisca Gorjão Henriques, Pública, 13.12.2009, p. 26). É uma precaução mínima que vou aconselhando: quando usamos palavras que não são de todos os dias (e mesmo estas, depende), convém consultar um dicionário. Patuá existe, sim senhor, mas é uma palavra que vem do tupi e com que se designa o cesto onde os índios, no Brasil, guardam as redes. É isto que queria dizer, Francisca Gorjão Henriques? É que o escreveu cinco vezes. Claro que não: é patoá, um parónimo. Patoá é o nome que se dá ao dialecto de qualquer idioma, e especificamente ao crioulo de Macau. É o aportuguesamento da palavra francesa patois. Segundo Rafael Ávila de Azevedo (A Influência da Cultura Portuguesa em Macau. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Colecção «Biblioteca Breve», 1984, p. 39), a mais antiga referência que existe sobre o patoá de Macau deve-se a um autor chinês, Tcheng Ulam, no século XVIII.

[Post 2910]

Actualização em 18.04.2010

      Erro que, espantosamente, também aparece em livros: «Mas eu insisti e então voltaram os batimentos ritmados e metálicos e, sobre eles, um canto de barítono em patuá das Caraíbas, com uma letra de canção infantil ou uma lengalenga para saltar à corda num recreio» (Expiação, Ian McEwan. Tradução de Maria do Carmo Figueira e revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 5.ª ed., 2008, p. 47).

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