3.12.09

Regionalismos

É como ler um livro

      Na rubrica Modus Vivendi, que se insere no programa Janela Aberta, do Rádio Clube Português (RCP), o médico Pedro Barreiros falou ontem de sinais e sintomas das doenças. Um excerto: «Para mim e para a maior parte dos meus colegas, a coisa mais importante que existe na relação entre o médico e a pessoa que o procura, o doente, é aquilo que o doente diz. É evidente que nós temos de perceber aquilo que o doente diz. O doente fala, muitas vezes, de uma maneira regionalista, usando termos que nós, nós é que temos obrigação de ir à procura, de perceber o que é que esses termos querem dizer. Por exemplo, nalgumas regiões [mas creio que somente no Alentejo], o termo “fezes” aplica-se como “dor”, como “preocupação”. “O meu filho dá-me muitas fezes.” Portanto, nós temos de perceber isso. Alguns sinais de algumas doenças. A zona, nalgumas zonas do País, chama-se cobrão. Como o eritema da zona se passa ao longo do trajecto do nervo, o povo pensava, antes de saber que aquilo se trata de uma doença transmitida por um vírus, pensava que era uma cobra que tinha passado e que tinha deixado aquele rasto. Portanto, nós temos de perceber aquilo que os doentes nos dizem. É como ler um livro. A pior coisa que uma pessoa pode fazer quando lê um livro é virar a página sem ter percebido exactamente o significado das palavras da página que acabou de ler.»
      Infelizmente, também disse: «Ele [o doente] pensa que a asma é uma doença extremamente grave, de insuficiência respiratória, quando a asma é também um sindroma que pode ter várias causas, e nós temos de perceber qual é a ideia que ele tem sobre elas.» Síndroma ou síndrome são vocábulos esdrúxulos e do género feminino. Quanto a cobrão, muitos dicionários gerais registam o termo, definindo-o como a inflamação de um nervo ou de gânglios nervosos, caracterizada pela erupção de vesículas na pele, tipicamente na região dorsal.

[Post 2869]

2 comentários:

R.A. disse...

Eu cá escrevo sempre "síndromo" para evitar o feminino que, muitas vezes, me soa mal. Por exemplo: «A síndrome metabólica...»
Mas recordo que já em Agosto passado, em «o género de "síndrome" - Ainda não», o estimado Helder Guégués tinha concordado em que o masculino "síndromo" é uma alternativa.

Helder Guégués disse...

É uma alternativa, de facto, opinião que não reneguei agora. Têm, contudo, origens diferentes.