10.2.10

Sobre «crítico»

Decisivo


      «Para Zorrinho, o carro eléctrico é “crítico” para dar sustentabilidade económica e social ao investimento feito em energias renováveis» («Carro eléctrico não precisa de mais energia mas de redes inteligentes», Lurdes Ferreira, Público, 10.2.2010, p. 23).
      É impressão minha ou nenhum dicionário da língua portuguesa regista o adjectivo crítico na acepção — essencial, decisivo — usada na frase citada? E não são poucas as vezes que a acepção é usada, seja na oralidade, seja na escrita. Claro que a realidade vai sempre à frente dos dicionários. E a acepção não deverá nada ao inglês critical?

[Post 3124]

10 comentários:

Francisco disse...

Eu diria que o adjectivo "crítico", na acepção que alegadamente lhe foi dada pelo secretário de Estado Carlos Zorrinho, deve TUDO ao inglês "critical". Ora aí está um bom pretexto para o seu blogue começar a debruçar-se sobre a "língua de pau" da generalidade dos nossos políticos, jornalistas, feitores de opinião (soa-me melhor assim, não sei se é do tempo), etc., etc.. Vamos a isso? Estou disposto a ajudar.

Helder Guégués disse...

Não estamos cá para outra coisa. Proponha, critique, aponte, denuncie. Tem aqui um espaço e muitos ouvidos e olhos.

Francisco disse...

Aceito o desafio. Em breve darei notícias.

Francisco disse...

A coisa promete. Ainda eu mal tinha acabado de sugerir que o ASSIM MESMO se debruçasse sobre a linguagem dos nossos políticos, jornalistas, feitores de opinião, etc. quando me caíram os olhos num excerto de uma entrevista que a edição em papel do Público de amanhã vai publicar na íntegra. O entrevistado é o Dr. Paulo Rangel, que terá dito a dado passo:
“A solução que ele [Passos Coelho] apresenta é uma solução de continuidade, é a mesma linguagem da de 15 anos de governo socialista, muito virada para o bloco central. É uma visão que eu considero muito instalada. Neste momento é preciso uma ruptura política. O PSD só distinguiu em Portugal quando fez rupturas políticas”

Em que ficamos? Se "a solução que ele (Passos Coelho) apresenta é uma solução de continuidade", se "Neste momento é preciso (?)(interrogação minha, não do Dr. Paulo Rangel) uma ruptura política" e se, como julgo saber, uma solução de continuidade é precisamente isso, uma ruptura, uma interrupção, isto não quer dizer que "ele (Passos Coelho)" é afinal a solução que o Dr. Paulo Rangel preconiza?

Helder Guégués disse...

Só (?) podemos concluir que Paulo Rangel não sabe que a locução solução de continuidade significa «interrupção, lacuna».

Francisco disse...

E agora o Presidente da República. De visita ao quartel da GNR no Largo do Carmo, pronunciou-se sobre o caso dos explosivos encontrados numa casa perto de Óbidos. E disse a dado passo: "Penso que não há razão para que os Portugueses se apoderem de sentimentos de insegurança." Também acho: nem que se apoderem nem que se deixem apoderar.

Helder Guégués disse...

Nunca devemos mexer no que não é nosso.

Francisco disse...

Acabo de saber pelo Jornal da RTP2 que "a Camargo Correia é desde hoje o maior accionista individual da Cimpor, depois de ter comprado a participação da Teixeira Duarte por quase um milhão de euros"! As empresas portuguesas estão mesmo ao preço da uva mijona, ou a jornalista queria dizer "quase mil milhões de euros"?

R.A. disse...

O adjetivo "crítico", nesta aceção, também - talvez melhor - podia ser substituído por "crucial". Os pontapés na gramática, na semântica e na ortografia que os nossos políticos dão deviam ser decisivos ou cruciais para não mais lhes fazermos uma cruz no próximo ato eleitoral... Acho eu!!!

Helder Guégués disse...

«“Penso que não há razão para que os portugueses em resultado deste caso se apoderem de sentimentos de insegurança, não há razões para qualquer alarmismo social em resultado destes explosivos encontrados numa vivenda em Óbidos”, afirmou o Chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalista [sic] no final de uma visita de trabalho ao comando geral da GNR, situado no Largo do Carmo, em Lisboa» («Cavaco diz não haver razão para “alarmismo social”», Diário de Notícias, 11.2.2010, p. 18).