«O acrónimo PIGS é um insulto inaceitável (mas que faz pena) por parte dos bárbaros viquinques [sic] do Norte sobre os pachorrentos bons vivants do Sul» («Há-de ir para os porcos», Miguel Esteves Cardoso, Público, 13.02.2010, p. 39).
Alguns ignorantes pensarão que a Miguel Esteves Cardoso tudo fica bem. Só ele poderá usar, sem nos rirmos por isso, a palavra «viquingue». No meu caso, sempre embirrei com a palavra «viking». Ao menos os Espanhóis, a quem me habituei, desde tenra idade (eu era para ter nascido espanhol) a ouvir, dizem vikingo. No Ciberdúvidas (raios os partam) só se lembraram de dizer, mas isso, é verdade, já foi há dez anos, que o «Michaelis regista víquingue, “relativo aos Víquingues, navegadores escandinavos que pilhavam as povoações litorâneas da Europa, entre os séculos VIII e X”» e o «“Vocabulário da Língua Portuguesa” de Rebelo Gonçalves e os dicionários portugueses consultados não referem o termo». Ainda não tinha sido publicado o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, que podia ser o melhor dicionário da língua portuguesa — mas alguém não quis ou não se esforçou e, de melhor, passou a putativo melhor. E agora fiquei escandalizadíssimo (e não devia, eu sei) porque este dicionário não regista viquingue nem víquingue. Entre aportuguesamentos legítimos e semiaportuguesamentos manhosos, esqueceu-se do que podia ser consensual. Não voltem.
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3 comentários:
O MEC escreveu no Público, fui confirmar, "viquinques" - aquele segundo "q" só pode ser gralha.
O Houaiss, o Aulete, o Vocabulário Ortográfico do Portal da Língua Portuguesa e a Infopedia/Porto Editora têm "viquingue" sem acentos.
O HG escreveu, no título, "vínquingue" com acento no primeiro "i".
O Priberam admite as duas formas - com e sem acento.
Não percebo nada...
Então, o acrônimo PIGS é um etnofaulismo, que consiste na forma que os membros de um grupo se referem, pejorativamente, aos membros de outros grupos de origem étnica diferente.
Outros exemplos de etnofaulismo:
“brownie”, usado nos Estados Unidos, para ofender pessoas com ascendência mista branca e negra;
“oreo”, derivado do biscoito Oreo, da Nabisco, usado como insulto racial, nos Estados Unidos, para designar os negros que se comportam como brancos;
“frog”, usado nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, para ridicularizar anglo-saxões que convivem com pessoas de origem francesa.
O acrônimo PIGS também é utilizado, pela imprensa americana e britânica, depreciativamente, para designar Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain), países da Eurozona, economicamente atrasados, o que não deixa de ser uma forma de etnofaulismo.
Atualmente, os que insistem na utilização do acrônimo, discutem se ele se torna PIIGS, pela inclusão da Irlanda, ou se ele permanece em PIGS, mas com a exclusão da Itália e a inclusão da Irlanda.
Comentário do Benévolo, do Brasil
Calma, tudo se resolve. MEC escreveu de facto como diz, mas só pode ser lapso. Nem liguei. (Como não escreve num blogue, não pode corrigir.) Logo, isto não é um problema. Resta-nos viquingue e víquingue. No título, escrevi a forma esdrúxula, porque a considero mais correcta.
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