Eu sei que a tradutologia, essa grande ciência, tem várias teorias, mas, para mim, traduzir é sempre encontrar correspondência de uma língua noutra. E não apenas correspondência literal, sob pena de termos obras sem alma, em português, sim, mas num português de tradutor automático (conheço tantas...). A tradução deve ser sempre um texto apetecível, num português provável e, neste sentido, sempre uma obra paralela. É esta obra paralela, a única que interessa ao leitor, que a esmagadora maioria das vezes o recenseador esquece, atribuindo quatro ou cinco estrelas, não à tradução que o leitor irá comprar e ler, mas a factos inteiramente externos, como à «oportunidade» ou à «coragem de editar» ou a outras balelas. Mas esta conversa ficará para outra oportunidade, porque agora quero dizer alguma coisa do que o título promete.
«Quando fizemos uma pausa para o chá depois da segunda hora de estudo, maquinei um plano para o período da Primavera» (Viagem ao Fundo de Um Coração, William Boyd. Tradução de Inês Castro e revisão de texto de Maria Aida Moura. Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2008, p. 21). Pelo menos a primeira ocorrência de período da Primavera não é compreensível para todos os leitores. Se o Spring term vai do início de Janeiro até à Páscoa, não se deveria traduzir por 2.º período, que, em Portugal, decorre entre o início de Janeiro e o final de Março? Outro exemplo: «Admirei os quadros — sobretudo aguarelas e gravuras a ponta seca —, olhei para alguns dos seus livros de prémio e falei do meu último trabalho (sobre O Rei Lear), com que eu estava bastante satisfeito, mas que ele classificara com pedantismo com a nota alfa/beta mais, ponto de interrogação, mais» (ibidem, idem, p. 33). Pergunto-me se não se encontraria uma nota igualmente pedante dentro daquilo que conhecemos. Depois de tentar averiguar se a nota do original é alta ou baixa, sei lá, optar por Suficiente Mais ↑↑↑, como vejo em alguns testes. Está aberta a discussão.
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1 comentário:
Concordo inteiramente consigo. Não se pode traduzir assim. Está quase ao nível de, no inglês britânico, traduzir «public school» por «escola oficial/pública»... Às vezes não há tempo para investigar, e segue-se o caminho mais fácil, o da tradução literal.
Cumprimentos
P. Pimenta
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