No Portugal dos Pequeninos de ontem, Sónia Morais Santos foi «esmiuçar» os medos das crianças. Os dois primeiros miúdos tinham medos realistas. O terceiro, porém, só temia vampiros e lobisomens. Incitado, espremido, puxado, lá disse que também receava que uma bomba atómica «arrebentasse com a cidade» (e o mundo que se foda) e temia ser obrigado a trabalhar. Comentário final da jornalista: «E tem muita razão. As crianças não foram feitas para trabalhar. Têm mais é de brincar, para o trabalho há muuuuito tempo.» São gostos, decerto — mas eu embirro solenemente com aquele «têm mais é de». Deveria mesmo figurar, entre as faltas ao respeito, à fidelidade, à coabitação, à cooperação e à assistência, como motivo para divórcio. Ou para despedimento.
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8 comentários:
Eu embirro com o "à séria"!!!! Enerva-me...
Helder,
Calma, meu.
Como têm mais é de, diz-se igualmente têm antes é de, ou têm sim é de, ou têm pois é de.
Também sobre eles cai a sua fúria?
Caro Fernando,
Não, é mesmo só em relação a têm mais é de. E é só mesmo isso, uma embirração, e espero continuar a ter direito a ter embirrações. Ou o Fernando não tem as suas? Eu sabia que, tratando-se apenas de uma embirração, alguém podia embirrar.
O que eu tenho verificado é que se ouve dizer, com muito maior frequência do que seria desejável, «têm mas é de» em vez de «têm mais é de».
Anónimo,
Bom contributo. Fico aguardando o comentário do Helder.
Caro Helder,
O melhor deste debate é podermos ver como, na sua sólida estatura "racional", você confessa uma fuga afectiva... Temos homem.
Caro Fernando,
Não tento agora inventar subterfúgios: escrevi logo que embirrava. Logo, estamos no domínio das emoções, sim. Não afirmei que estava certo ou errado.
Caro anónimo (e Fernando, porque espera),
Bem, depende. Imagine que eu queria repreender os jornalistas, o que nunca me passou pela cabeça, e escrevia assim: «Têm mas é de aprender qualquer coisinha, e só depois comecem a escrever.» Está errado? É claro que não. Dê-me uma frase em que se tenha usado uma coisa pela outra.
Eu não vejo sombra de solecismo. Estamos, aí, em terreno firme. Embora sintacticamente, e deliciosamente, ondulado.
P.S.
É engraçado que, aqui em Amsterdão, recebo a informação em neerlandês.
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Traduzo:
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Estamos, suponho, no terreno do glocal (global + local).
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