28.5.10

Sobre «psicodrama»

Mais que duvidoso


      Estamos no início de 1919. Azevedo Neves, director da Morgue de Lisboa desde 1911, está a conversar com Asdrúbal d’Aguiar sobre o homicídio de Sidónio Pais. «— Todo este psicodrama é uma trágica metáfora da justiça. Aconteceu em França com o caso Dreyfuss e, agora, de maneira mais intensa, acontece em Portugal» (Mataram o Sidónio!, Francisco Moita Flores. Revisão de Ayala Monteiro. Lisboa: Casa das Letras, 2010, p. 235).
      Só em 21 de Abril de 1921 se realizou a primeira sessão pública de psicodrama, no Komödienhaus, em Viena de Áustria. O criador do psicodrama, e quem cunhou o termo, foi o psiquiatra e psicossociólogo vienense Jacob L. Moreno. Mesmo supondo, e talvez não seja supor mal, pois Azevedo Neves especializara-se com Virchow e Von Hansermann em Berlim no início do século e conheceria provavelmente a língua alemã, que conhecia o trabalho de Jacob L. Moreno, não é muito provável que usasse o termo. De resto, embora envolto numa certa imprecisão, algumas fontes indicam o ano de 1922 como a data em que o termo foi criado. Tudo leva a crer, pois, que é mais um anacronismo neste romance histórico.
      Ah, sim: escreve-se Dreyfus e não Dreyfuss. Os adjectivos derivados do nome Dreyfus são dreyfusista e antidreyfusista.

[Post 3511]

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