Ainda as cinzas de José Saramago não arrefeceram, e já se lêem textos de um mau gosto inaudito, como este publicado ontem no Correio da Manhã: «Resta anunciar a data de inauguração do novo lugar de peregrinação. Espera-se que seja numa altura em que não haja desculpas para ausências pecaminosas. É preciso mostrar ao mundo que esta Pátria pobre, socialista, ridícula e patética é a maior na arte de fazer bicos. De pé ou de joelhos» («Festival de bicos», António Ribeiro Ferreira, Correio da Manhã, 28.06.2010, p. 56).
Também eu, se é que isso interessa, não simpatizava muito com o escritor, mas escrever desta forma a respeito do monumento que a Câmara Municipal de Lisboa (e é de supor que não tenha sido coagida a isso) pretende erigir em frente da sede da Fundação José Saramago não me parece menos que indigno. Resta-me a, paradoxal, tendo em conta o que venho fazendo aqui desde há cinco anos, satisfação de nem 10 % dos muitos leitores do Correio da Manhã saberem que bicos, na acepção insinuada nas posições, «de pé ou de joelhos», significa o que significa.
[Post 3643]
1 comentário:
O pior é que, além de ser de mau gosto, o trocadilho não faz sentido, pois a expressão é "pôr-se em bicos de (dos) pés". "Fazer bicos em pé" seria a mesma coisa que "fazer bicos de joelhos", mas noutra posição. Perde-se o sentido do servilismo em favor da chalaça gratuita.
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