10.7.10

Acordo Ortográfico


Há quem discorde


      Alguns leitores da Visão insurgiram-se com a decisão de a revista adoptar as regras do Acordo Ortográfico de 1990. Nada de especial, isto acontece muitas vezes. Na nota da redacção, argumentam: «A norma ortográfica até há pouco tempo em vigor, e que vários leitores pensam ser um património porque a confundem com a língua, contava só 99 anos, e teve ainda pontualmente alguns ajustes.» Só 99 anos... E a ortografia não é um património? (Só nas línguas ágrafas...) Quem está contra o AO90 discorda: «O Acordo Ortográfico de 1990 — que não pedimos, não queremos, e de que não precisamos — é, objectivamente, um atentado contra o nosso património, contra o nosso povo e contra o nosso desenvolvimento» («Acordo ortográfico: pareceres ignorados, deveres do Estado e direitos dos cidadãos», António Emiliano). E porque é que se afirma que as novas regras ortográficas aproximam a língua escrita da língua falada?

[Post 3677]

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda outro dia vieram apresentar-me esse argumento da aproximação da língua escrita com a falada. É constrangedor ver a quantidade de pessoas que acha que eliminar umas quantas consoantes mudas é fazer essa aproximação. Não fazem a mínima ideia do que é língua escrita e língua falada. Por isso, muitos escrevem como falam.

Mas direi mais: porque carga de água é que devemos aproximar as duas? Falo fluentemente 3 línguas extrangeiras e compreendo uma quarta, embora não a fale. Em todas elas existe uma clara distinção entre a língua escrita e a falada. Até mesmo no Inglês, que é balbuciado por muitos, mas realmente compreendido por poucos e usado a torto e a direito para os exemplos e comparações mais disparatadas.

Se ensinassemos as pessoas a escreverem bem em Português, talvez elas já não sentissem a necessidade de aproximar as duas formas. É Maomé que tem de ir à montanha, não é a montanha que tem de ir a Maomé.

João Roque Dias disse...

Sobre a estafada mentira de a Reforma Ortográfica de 1991 ter sido um crime lesa-língua por parte de Portugal, reproduzo o seguinte: «Curiosamente, a despeito das inúmeras críticas que a reforma portuguesa recebera no Brasil, sua aceitação acabou sendo até maior do que aquela anteriormente realizada pelos acadêmicos brasileiros, pelo menos nos primeiros anos subseqüentes à mesma: em 1915, por exemplo, a própria Academia Brasileira de Letras acabaria aceitando um parecer de Silva Ramos (julho) que tornava oficial o sistema ortográfico lusitano, eliminando todas as divergências ortográficas entre Brasil e Portugal (novembro), apesar de que quatro anos depois (1919), a mesma academia voltaria atrás, renegando a proposta de Silva Ramos e abolindo a resolução de 1915. O amor-próprio e o sentimento nacional brasileiros parecem ter, no final das contas, prevalecido." in REFORMA ORTOGRÁFICA E NACIONALISMO LINGÜÍSTICO NO BRASIL, por Maurício Silva (USP)».