«A BP fechou a última válvula da tampa de contenção na quinta-feira, interrompendo pela primeira vez em quase três meses a fuga de petróleo. A leitura de pressão, 41 horas depois, era de 6745 psi, abaixo dos 7500 psi que os cientistas diziam garantir que não havia qualquer fuga no poço. A pressão continuava a subir lentamente, ao ritmo de 2 psi por hora, quando o esperado seria entre 2 e 10 psi» («Poço não apresenta fugas mas teste deve continuar», Susana Salvador, Diário de Notícias, 18.07.2010, p. 32).
Já não pedia mais, mas a jornalista tinha obrigação de explicar o significado daquela unidade — psi. Que é usada para medir a pressão, não há dúvida, percebe-se do próprio texto. Psi vem do inglês pounds per square inch, que em português é libra por polegada quadrada (lb/pol²). (Para outras grandezas físicas e suas unidades, ver aqui.)
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6 comentários:
Aproveito para corrigir o nome de algumas unidades, erradamente escritas no documento apontado:
Newton ---> newton
Pascal ---> pascal
Joule ---> joule
Kelvin ---> kelvin
Watt ---> watt
Ampére ---> ampère (com acento grave)
miliampére ---> miliampère
microampére ---> microampère
Quanto a Celsius e a Fahrenheit, estão bem, porque as expressões correctas são «graus Celsius» (e não graus centígrados, como muitas vezes se ouve e lê) e «graus Fahrenheit». Com «kelvin» nunca se usa a palavra grau; assim, por exemplo, «a temperatura era de 300 kelvin». Por último, o símbolo do microampère está errado.
Fernando Ferreira
Obrigado, mais uma vez, caro Fernando Ferreira, pelo seu contributo. Quando estabeleci a hiperligação, intuí que poderia ajudar-nos a destrinçar o correcto do incorrecto.
A designação portuguesa da unidade SI de corrente elétrica é ampere (sem diacrítico). Em francês é que é "ampère". Com diacrítico, em português, apenas o nome do físico Ampère. Pela lógica de F Ferreira, teríamos radien em vez de radiano, mètre em vez de metro, seconde em vez de segundo, kilogramme em vez de quilograma, e por aí vamos.
Alberto Sousa
Compreendo o seu comentário, caro Alberto Sousa, mas a minha lógica tem apenas a ver com a preservação do apelido original do Sr. André-Marie Ampère.
Admito que, se o critério for o de respeitar a legislação portuguesa em vigor, teríamos de escrever apenas «ampere». Só que há quem, como eu, defenda a grafia «ampère» e bata o pé. Porque em Português o acento grave existe.
Faz sentido contrariar a lei? Faz. Se ninguém tivesse reclamado perante a primeira legislação portuguesa a este respeito (DL 427/83, de 7 de Dezembro), estaríamos hoje a usar as unidades «Newton» e «Joule», por exemplo. Muitas pessoas não aceitaram isso e a lei foi alterada (DL 238/94, de 19 de Setembro). A alteração, no entanto, não foi feita com o devido cuidado e determinou que se escrevesse, por exemplo, «grau celsius». Mais uns quantos recusaram-se a fazê-lo e também isso acabou por ser modificado (DL 254/02, de 22 de Novembro). Assim, como pode ver, de dez em dez anos, em média, fazem-se alguns acertos. Espero que o próximo esteja para breve.
Infelizmente, as equipas que elaboram as leis nem sempre fazem o seu trabalho como deve ser. E quem discorda vê-se obrigado a infringir a lei para defender a sua posição.
Fernando Ferreira
Caro Fernando Ferreira,
Não quereria perder muito tempo com uma questão aparentemente de lana-caprina. Gostaria, no entanto, de esclarecer a minha posição.
1. Não foi por respeito à lei que me pronunciei a respeito. Sou de opinião que a lei manifestamente errada (era o caso da inicial maiúscula pela minúscula que vc apontou, o que ia de encontro ao convencionado pelo BIPM) só obriga a algum burocrata mais enferrujado.
2. O que eu disse foi que a designação PORTUGUESA da unidade que em francês se designa por "ampère" deveria ser ampere, pese embora o nome próprio Ampère que lhe está na origem mas que se presta a um aportuguesamento escorreito. Ao contrário de unidades como ohm, coulomb, newton, kelvin e outras que tais, cujo aportuguesamento as desfiguraria sobremaneira. Mas quem sabe?, talvez um dia tenhamos um faradei. Já tivemos antepassados longínquos tipo ómio e vóltio.
3. Concordo que a sua opção pelo francês ampère por respeito à "preservação do apelido original do Sr. André-Marie Ampère" é um argumento de peso à primeira vista. Mas note o seguinte: em rigor "ampère" ou ampere deixou de ser nome próprio, passou a comum e por isso se escreve com minúscula inicial; e pode ser que me engane, mas não creio que num texto em português vc se referisse a um Napoléon ou a uma possível unidade de despotismo castrense "napoléon". Creio que está a ver aonde eu quero chegar. Ou seja, há aqui duas opções, ambas idóneas dentro das suas premissas.
4. Observe que o próprio BIMP, na tradução para inglês do texto oficial relativo ao SI, escreve ampere, sem se importar com essa petitesse do acento grave. Ah, mas contrapõe vc, o acento grave existe em português. É verdade, mas apenas como indicador de crase. Daí provavelmente também grafias erróneas como "Ampére": é que as pessoas lembram-se vagamente de ter visto um acento, mas como lhes é estranho (e bem) encontrar um acento grave na sílaba tónica resvalam para o agudo.
5. Estranho que vc escreva «a temperatura era de 300 kelvin». Os nomes em português têm, em geral e no meu dialeto, plural marcado no oral e no escrito por s final. 300 metros, segundos, e, portanto, ohms, volts, faradays, kelvins, e também Napoleões, Blairs, Clintons, euros, dólares... A ausência da terminação mexe comigo.
6. Fica uma ou outra coisa por dizer, mas creio que já estou a abusar do espaço de correspondência do blogue.
Grato pela atenção, Alberto Sousa.
Caro Alberto Sousa:
Fez bem em clarificar a sua posição. Penso que as nossas opiniões estão já perfeitamente expressas; ambos temos as nossas razões para defendê-las.
Sem querer alongar-me muito também, a questão dos «kelvin» é outra batalha pessoal, provavelmente perdida, mas motivada pela mesma lógica já referida.
Neste caso, a lei portuguesa é omissa (pelo menos de forma explícita) e apenas temos um documento (norma NP 172) que aconselha pluralizar as unidades que derivam de nomes de cientistas de acordo com a sua grafia original (logo, «kelvin»/«kelvins»). Como não concordo com essa recomendação, não a sigo. Defendo que a manutenção do nome original do cientista, sem qualquer alteração e no singular, é a única maneira de evitar o previsível aparecimento de inúmeras variações, ao gosto de cada um. As tentativas do passado que muito bem referiu, e que felizmente não vingaram (o exemplo de vóltio) aconselham-nos a ter alguma cautela. (Veja-se o caso de Espanha, onde usam o «julio» em vez do «joule», ou o «ohmio» em vez do «ohm».) Tenho visto colegas meus a optarem por «pascáis» em vez de «pascals», porque esta última palavra «soa horrível e custa a pronunciar», e até os compreendo. A recente moda de incorporar na nossa língua qualquer termo estrangeiro, aportuguesando-o, começa a contagiar os nomes, e não me é difícil imaginar que daqui a uns tempos se comece a escrever «culombe», com o plural «culombes» (ou «faradei», exemplo dado pelo próprio Alberto). Creio que legislando no sentido de adoptar como designação da unidade o nome original e exacto do cientista mataria à nascença todas estas aberrações.
Como disse, não tenho muitas esperanças nesta luta desigual, mas ainda não desisti.
Fernando Ferreira
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