26.7.10

Sobre «promitente-comprador»

Não me convence


      Abunda a grafia promitente-comprador e promitente-vendedor — tal como abunda a grafia promitente comprador e promitente vendedor. Nos acórdãos que tenho lido, ia jurar que se usa mais esta última. Quando, há uns anos, alguém perguntou ao Ciberdúvidas qual a grafia correcta, o consultor Miguel Faria de Bastos não teve dúvidas: «A primeira fórmula, promitente-comprador, é a mais correcta. O promitente-comprador é promitente de uma compra; ainda não é um comprador. O termo promitente-comprador constitui uma unidade conceitual com um sentido técnico-jurídico próprio e, daí, a obrigatoriedade do hífen.»
      Não vejo em que é que o facto de se tratar de uma «unidade conceitual» obriga ao uso do hífen. Não faltam «unidades conceituais» no Direito e noutras ciências veiculadas por locuções e não por vocábulos compostos. Direi, ao melhor estilo jurídico, que se me afigura, pois, duvidoso o bem fundado da explicação.

[Post 3730]

Actualização em 27.07.2010

      Então agora vejam noutro jornal: «No tribunal de Loulé, contudo, já foram registadas sete acções de promitentes compradores, a reclamar a anulação dos contratos e pedindo o dobro do sinal, alegando incumprimento contratual» («Apartamentos vendidos por milhões de euros no Algarve chegam a tribunal», Idálio Revez, Público, 27.07.2010, p. 20).


3 comentários:

Francisco Agarez disse...

Eu também não vejo o que tem que ver o cu com as calças. Mas também não admira: pois se eu até ignorava que existisse na nossa língua a palavra "conceitual"... (Ó diabo! O meu corrector ortográfico também ignorava e, vai daí, avermelhou-me a palavra.)

Anónimo disse...

Os brasileiros é que costumam usar «conceitual»; em Portugal, penso que é «conceptual» que se deve dizer.

Fernando Ferreira

R.A. disse...

Os portugueses pronunciam o "p" em conceptual, por isso mantenho-o na grafia, pois já uso o AO 1990. No entanto, devo escrever conceção já que, em Portugal, este "p" é mudo. Estas regras vão custar a entrar!
Outro exemplo de grafia divergente na mesma família: epilético e epilepsia...
Vamos habituar-nos? Olá se vamos!