28.7.10

Sobre «vectorial»

Assim se vê a diferença


      «José Robalo, subdirector-geral da DGS, revelou ao CM que foram reforçadas as medidas de combate ao vírus do Nilo Ocidental: “Foi reforçada a rede de vigilância vectorial, coordenada pelo Instituto Nacional de Saúde [Dr.] Ricardo Jorge, que recebe mosquitos de todo o País. Nesta medida, decidimos aumentar o número de insectos recolhidos em Lisboa e Vale do Tejo para análises laboratoriais”, explicou o responsável» («Reforçadas medidas contra vírus do Nilo», André Pereira, Correio da Manhã, 27.07.2010, p. 17).
      Uma sondagem dir-nos-ia quantos leitores do Correio da Manhã perceberiam aquele vectorial. Assim sem qualquer explicação, é um mau trabalho. No Público, creio que ainda é pior: «“Foram encontradas 11 espécies diferentes de mosquitos na zona de residência do doente, mas, até agora, nenhum caso positivo da presença de vectores do vírus do Nilo Ocidental”, refere José Malheiros, especialista dedicado a esta rede de vigilância do INSA que já funciona há alguns anos» («Caso de infecção por vírus do Nilo Ocidental em Portugal está “praticamente confirmado”», Andrea Cunha Freitas, Público, 27.07.2010, p. 6).
      No Diário de Notícias, a palavra começa por nem sequer estar na peça principal (de resto, o artigo é muito mais informativo do que os dos outros jornais), mas num texto de apoio: «Desde 2008 que o INSA tem uma rede de vigilância de vectores (veículos de transmissão como os mosquitos) no Continente e na Madeira» («Mosquitos e mamíferos estão a ser investigados para detectar vírus do Nilo», Diana Mendes, 27.07.2010, p. 12).
      Agora quanto a vectorial. Se tivéssemos dicionários realmente bons, talvez não fosse tão grave que os jornalistas escrevessem assim. Não é o caso. Qualquer dicionário remete sempre para vector. Este vem do latim vector, -ōris, «que conduz». Em termos genéricos, é o agente que transporta algo de um lugar para outro. Especificamente em termos médicos, é o ser vivo que pode transmitir ou propagar uma doença. Nenhum dicionário da língua portuguesa, porém, apresenta esta simplicidade.

[Post 3732]

2 comentários:

Paulo Araujo disse...

Pindorama, país tropical, é tão sujeito à dengue (com vítimas fatais), que não deixamos registrá-lo, só que na forma 'vetor'.

Paulo Araujo disse...

Correção: 'não deixamos de registrá-lo'.