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Engenhar com números
Ingenio é uma dessas palavras espanholas infinitamente mais ricas na língua que no dicionário, sim, mas, ainda assim, infinitamente mais ricas no Diccionario da Real Academia Española que em qualquer dicionário bilingue. Se eu fosse sentenciador (e parvo, e parvo), até diria: dos que houve, há e haverá. No D. Quixote, ingenio, que aparece 45 vezes, é agudo, maduro, cultivado, felicísimo, boto, corto, seco, sutil, admirable, gran, ruin, desenfadado, buen, resfriado... Abro de novo a tradução de D. Quixote feita por José Bento, que me acompanha por estes dias que me abafam o engenho para obra mais substanciosa, e faço as contas: o tradutor verteu o vocábulo 21 vezes como «engenho», 13 como «inteligência», duas como «esperteza», cinco como «mente», duas como «imaginação», uma como «espírito» e uma como «cérebro». Vamos agora, como leitores usurários, aplanar o trabalho alheio e dizermos que podia ter recorrido a menos palavras, ou mesmo a uma só, como alguns pretendem? Não e não, que os matizes no original também podem, e muitas vezes devem, ser dados por diferentes vocábulos. Que não vamos agora poupar riquezas e esbanjar pobrezas.
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