17.9.10

Contracção

Descontracção e bom senso


      «Os mais simples pensam que este era só aquele que marcava golos inacreditáveis. Mas ele representava, sobretudo, o facto do futebol não ter explicação» («O Sobrenatural de Almeida», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 16.09.2010, p. 52).
      Se não tivesse mais nada para dizer, faria um grande escarcéu à volta de a construção «o facto do futebol não ter explicação» ser agramatical, porque a contracção da preposição com o artigo só é possível em sintagmas nominais. Faria, mas apenas se não me lembrasse de que esta é uma ideia muito recente e não sancionada por estudiosos da língua como Vasco Botelho de Amaral, como já tive oportunidade de aqui escrever um dia. Contudo, continuem a desfazer a contracção — pelo menos quando o tiverem de fazer, porque já vi muitos aprendizes de feiticeiro a desfazerem as contracções quando o não devem fazer.

[Post 3888]

3 comentários:

Anónimo disse...

E, se o fizesse, não faria mal: se Botelho de Amaral, que muito prezo e sigo, não sanciona o desfazer da contracção, outros aconselham-no, e, mais decisivo, são mais em número os autores de boa nota que autorizam essa regra, e as vezes e casos em que a seguem, do que os outros. Ademais, aumenta a clareza: por exemplo, «o fato» (quando lhe asparem o «c», se não o fizeram já - não me perco com acordos e desacordos ortográficos: nisto, como dizia Voltaire, «le prote mettra la bonne orthographe») «o fato do Euzebiozinho ir à missa» é bem diferente de «o fato de o Euzebiozinho ir à missa».
- Montexto

Venâncio disse...

Montexto,

Não faça esse (para mim incrível) erro de pensar que o Acordo Ortográfico eliminou em Portugal o C de facto. O Acordo é, em alguns pontos, absurdo. Mas não a tal ponto...

Lamento que o seu (na intenção) engenhoso exemplo não valha.

Anónimo disse...

Para mim não é incrível, pela simples razão de que não li o acordo ortográfico nem tenciono ler, nem tampouco segui-lo. Vou comntinuar a escrever como aprendi por uma e boa vez, sem tornar ao assunto. Se for preciso, «le prote» providenciará, como disse o outro. Acordos ortográficos são mais para as gerações futuras, a meu ver, e cuido que também no de Evanildo Bechara, segundo já não sei que entrevista.
Quanto ao «c» de «facto», devo ter sido induzido pela grafia brasileira, que já agora o dispensa, supondo eu que tivesse vingado no acordo. Mas não, pelos vistos. Por enquanto... Lá hão-de chegar, não tenha dúvidas. Tranquilizemo-nos, porém: não é por aí que o gato vai às filhós (que são a sintaxe e o vocabulário, mas não propriamente a moda por que este se veste).
Em todo caso, obrigado pela observação.
- Montexto