28.9.10

Dezenove/dezanove

Pequena diferença


      «— Vamos lá. Os navios Raio e Lúcifer ancoraram nas alturas das Antilhas. Esperaram dezoito dias em calmaria. Ao dezenove houve vento de servir. Levantaram, e fizeram-se de vela até vinte milhas de Cuba. Os navios espanhóis apareceram. Eram três. Foram abordados com pequena resistência. Carregavam sedas e porcelanas» (Mistérios de Lisboa, Camilo Castelo Branco. Fixação de texto por Laura Arminda Bandeira Ferreira. Nota preliminar de Alexandre Cabral. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 10.ª ed., conforme a 5.ª, última revista pelo autor e em confronto com a 1.ª, 1969, p. 261).
      É possível (mas esta edição, apesar de cuidada, tem gralhas) que Camilo tenha escrito dezenove, mas essa grafia do numeral é para nós um brasileirismo. Contudo, está mais próximo dos elementos de formação: dez+e+nove. E mais próximo, também, do espanhol: diecinueve (a que se junta a grafia, mais usada antigamente, diez y nueve).

[Post 3919]

1 comentário:

Paulo Araujo disse...

Agora é um brasileirismo no sentido de ser a forma usual aqui, não mais em Portugal, mas na origem está em:
"Medieval: dezenove
séc. XV, LOPF, 82.48
1 [...] aos dezenove dias de março [...] presente el-rrei dom Fernando [...] forom trautadas pazes e aveenças antr'elle e el-rrei de Castella [...].

séc. XV, LOPP, 25.39
2 Era dom Pedro de quatorze annos e dom Joham de dezenove, moços innocentes que nunca lhe mal merecerom [...]."
LOPP é, de Fernão Lopes, a 'Crônica de Dom Pedro', e LOPF, do mesmo autor, a 'Crônica de Dom Fernando'.
In: Vocabulário histórico-cronológico do português medieval, de Antonio Geraldo da Cunha.
Creio ser parte da característica da variante brasileira que manteve muito do português medieval e arcaico; no Nordeste muita gente ainda pregunta, não pergunta.