13.9.10

Pontuação

Vírgulas fugitivas


      Já aqui exalcei o olho clínico (potenciado, recentemente, e assim prosaicamente desmetaforizado, com uns implantes intra-oculares — pista preciosa para um Dr. Richard Kimble lhe descobrir a identidade, a não ser que prefiram vê-lo como um alter ego meu) do revisor antibrasileiro para as repetições. Com as lentes, também recentemente, porque me lembro de conversas em que ele afirmava o contrário, foi-lhe implantado no cérebro a necessidade de um matiz na pontuação dos complementos circunstanciais de lugar. Apareceu a seguinte frase: «Em Braga, substituiu Jorge Costa em Novembro e, nos seus primeiros três jogos, somou 7 pontos, mas depois não conseguiu garantir um lugar europeu, terminando a 12 pontos de um V. Guimarães que foi 3.º classificado.» Que não, que a acção e o lugar estão tão intimamente ligados, argumentou, preleccionou, tentou convencer, que não pode haver ali vírgula, e, assim, emendou desta maneira: «Em Braga substituiu Jorge Costa em Novembro e, nos seus primeiros três jogos somou 7 pontos, mas depois não conseguiu garantir um lugar europeu terminando a 12 pontos de um V. Guimarães que foi 3.º classificado.» Isto convence alguém? Suspeito que nem o próprio sai convencido nem os demais persuadidos.

 
[Post 3873]

2 comentários:

Anónimo disse...

«No Brasil temos que conviver com o esquerdismo demagógico da direita e o direitismo visceral da esquerda», p. 189.
«No Brasil as únicas portas que estão abertas a toda a população abaixo da classe média são as da cadeia. Justiça seja feita - pra entrar e pra sair», p. 717.
«No orçamento federal o dinheiro continua saindo pelo ladrão, porque ladrões continuam entrado no orçamento», p. 406.
«No Brasil o otimista dorme com medo de acordar pessimista»,p.411.
«No mezanino do urdimento o francatripa funambulesco bufoneia impávido e desbunda solerte», p. 415.
«No meio do cruzamento um guarda sendo dirigido pelo tráfego», p. 563.
(Millôr Fernandes, «Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos», L&PM Pocket,2007.)
«No Céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar.» (Vieira, Sermões, Leya, 2008, p. 149.)
Donde se colhe que não há-de ter sido o caso mais disparatado defendido pelo revisor antibrasileiro. Mas com tantas monstruosidades do tempo e da fortuna em matéria de linguagem a tripudiar por aí, pedindo por boca a bengalada do homem de bem, e ele a partir lanças por maravalhas...

Anónimo disse...

Reparei agora por acaso que me esqueci de marcar o anterior. Faço-o agora.
- Montexto