10.10.10

Revisão

É uma missão


      O revisor antibrasileiro mostrou, mais uma vez, como não deixa passar repetições de qualquer espécie. «Veja: “Está longe de estar”. O jornalista não conseguia dar volta a isto?!» A noite, porém, não foi marcada por estas saborosas prelecções, antes por uma queixa: «... E depois disse-me: ‘“Assim, não é de admitir, etc.”’ Para que é esta vírgula aqui a separar o sujeito do verbo?” “Assim” sujeito!» Bem, eu também fiquei abalado, um revisor experiente a dizer a outro semelhante barbaridade. Lembrei-me de outro. Da primeira vez que falámos, apesar de alguma incoerência, disse muita coisa acertada. «Por exemplo, “fazer com que”: nunca deixo passar tal disparate. Como eu costumo dizer, temos “coque”, não “com que”.» Riu-se. Da segunda vez, porém, tinha os reflexos um pouco embotados, e o nariz, qual tubérculo rugoso, purpúreo, distraía-me tanto como o entrecruzar de conversas e referências que me eram estranhas. No meio de tanta gente, ele tinha um propósito bem claro: comer o máximo de croquetes e beber tanto quanto aguentasse de portos. Deixei-o aportar na mesa das bebidas e eu naufraguei na multidão.

[Post 3953]

1 comentário:

Francisco Agarez disse...

Quase apetecia dizer que o homem "fundeou" na mesa das bebidas!