Rui Tavares lá continua no bastião inimigo a usar como sabe e quer as novas regras ortográficas: «Se no Financial Times de anteontem vinha Portugal na capa, no de ontem vinha Angela Merkel, que dizia estar preocupada com o proteccionismo. Na fotografia, a chanceler alemã parece (como sempre) uma morsa: sonolenta mas capaz de nos triturar» («A morsa e o carpinteiro», Público, 10.11.2010, p. 44). E ainda nos lança para cima mais um «proteccionismo» e um «proteccionista». Contudo, com o novo acordo ortográfico, é «protecionismo» e «protecionista» que se escreverá.
[Post 4063]
9 comentários:
Pois é Helder, o problema é que — para quem não quer usar a ortografia velha — estou descalço. Parece-me que os textos não são revistos, ou quando são a revisão não é feita de acordo com as novas regras (os nomes dos meses passam a maiúscula quando eu os escrevi com minúscula, etc.).
E, no entanto, eu pronuncio distintamente aquele c em proteccionismo. Embora diga proteção e não protecção.
Se o jornal não tem revisores para o resto, era de supor — até pela oposição, apenas sustentável a prazo, às novas regras ortográficas — que os não tivesse para cronistas rebeldes. Quanto a «proteccionismo», as coisas não são bem assim: não é por o Rui pronunciar distintamente o c que o deverá escrever. Fazê-lo é regressar às «grafias pessoais» do século XIX, decerto que o oposto do que pretendeu ao ter aderido às novas regras.
Só quem não lê diariamente o Público (para mim o menos maus dos nossos maus jornais) guarda ilusões sobre a revisão que por lá se (não) faz. Ainda hoje, na segunda coluna da primeira notícia da primeira página, se lia, a propósito da cimeira da NATO (e porque não da OTAN?): "Nos dias da cimeira (19 e 20 de Agosto)"! Mais palavras para quê?
Deteto mais dois erros no texto de Rui Tavares:
1) escreveu "lêem" onde deveria deveria escrever "leem";
2) usou "reescalonamento" quando, segundo o Dicionário Priberam (embora não acompanhado por outros entendidos) deveria escrever "re-escalonamento".
Estou certo, caro Helder?
Já agora, não quer comentar o uso de "porém" como substantivo?
Sim, deveria ser «leem». Quanto a «reescalonamento», já conhece a minha opinião. O «porém» substantivado não oferece qualquer dúvida nem merece qualquer reparo: é um dos maravilhosos recursos da nossa língua.
Curiosamente os dicionários on line da Priberam e da Infopédia não assinalam o "porém" como substantivo, ao contrário do Houaiss que o faz.
Já agora: em "não há mas, nem meio mas" temos também substantivação da conjunção?
"Mas", substantivo, também está em sintagmas no Houaiss. Advérbios também servem; como diria o personagem Odorico Paraguassu, na novela "O bem-amado", "deixemos os entretantos e partamos para os finalmentes".
Continuarei a desrespeitar o Acordo até ao dia 12 de Maio de 2015 (assim as Parcas mo teçam!). No dia seguinte, serei o mais acatador dos cidadãos (vencido, nunca convencido).
A vantagem de conservarmos o mais longamente possível as consoantes "mudas" é colaborarmos para protelar o momento (que suponho inevitável) em que o seu definitivo desaparecimento irá acarretar o fechamento das átonas anteriores, tornando ainda mais sombria a nossa já tão sombria pronúncia.
Leio sempre o Rui Tavares, muitas vezes com entusiasmo. Mas lamento a sua apressada opção que (assim considero) nada justificava.
Fernando
Mas e se o rapaz pronuncia o 'c'? Eu digo-o sempre; há muito é quem no não ouça...
Cumpts.
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