«Anteontem, o Senhor Saraiva contou-nos que, quando era miúdo, há mais de 70 anos, ele e os amigos iam à cata das uvas Ramisco, de chão de areia, que as vindimas tinham esquecido. Nessa altura não havia pinheiros nem casas e as vinhas iam até à Praia Grande — havia por onde procurar. Felizes da vida, levavam os cachos abarbatados às mães. Chamavam eles a estas uvas as uvas “rabisco”: como está um gatafunho para a pintura acabada, assim está a uva Ramisco que vai fazer doce para aquela que vai fazer o vinho mais fino de Portugal, que é o Ramisco de Colares» («O rabisco», Miguel Esteves Cardoso, Público, 11.11.2010, p. 39).
Escrito assim, até parece que os rapazes eram uns ignorantes relapsos. Contudo, como andar ao rabisco (ou ao rebusco, como se diz nas Beiras, por exemplo) é percorrer áreas extensas para apanhar o que ficou esquecido na colheita de uvas, de castanhas, etc., parece-me que a semelhança fonética só serve para o Sr. Saraiva gracejar e cativar os clientes cultos.
[Post 4066]
3 comentários:
Tem graça e faz sentido - obrigado, mais uma vez, pelo esclarecimento.
Um abraço de primeira apanha,
Miguel
«E pediu-me que a deixasse apanhar as espigas, que ficam atrás dos segadores: anda no campo desde manhã até agora, sem ter voltado a casa nem por um momento.
E disse Booz a Ruth: Ouve, filha, não vás a outro campo a rabiscar, não te apartes deste lugar: mas ajunta-te com as minhas moças.»
Bíblia, Ruth, II, 7-8.
- Montexto
Ah, versão do padre António Pereira de Figueiredo (mas nem é preciso dizer).
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