Um dos convidados de ontem do programa Prós e Contras foi o escritor José Luís Peixoto. Uma das frases que lhe ouvi: «Eu tive oportunidade de publicar recentemente um romance em que acabei por, ao escrevê-lo, por me debruçar sobre a questão da emigração portuguesa, nesse caso, especificamente, para França, e ter oportunidade de perceber que se tratam de pessoas que construíram dois países, de certa forma, com o que fizeram.» Fátima Campos Ferreira quis ainda saber se o escritor achava que somos um povo resignado. «Eu penso que nos querem resignar», respondeu, violentando a gramática, o autor do Livro. Esgotada a gramática e a inspiração com este convidado, Fátima Campos Ferreira virou-se para Salvador Mendes de Almeida, e perguntou: «O que é que denota hoje, que sinais vê na sociedade?»
Não me perguntem mais nada, pois fui-me deitar com esta frase (salvo seja).
[Post 4166]
12 comentários:
Afinal o que me asseguraram do apuro verbal do novel prosador sempre é verdade. Mais um a opulentar a língua, que tão pobrezinha é. Mas de ora em diante vai medrar.
- Montexto
Mais um que um dia destes vai ter um "revisor filológico"!
E eu penso que a dita violação à língua, naquele específico caso, foi proposital, para fazer graça.
Concebe-se que alguém no seu juízo perfeito diga «tratam-se de pessoas» por «trata-se de pessoas» para fazer graça? Que desgraça!
(Já quanto ao «que nos querem resignar», talvez.)
- Montexto
Referia-me precisamente ao "que nos querem resignar", pois foi ali que o Helder mencionou a "violação à gramática". Nunca ao "se tratam de", por favor.
Bem.
- Montexto
O cenário de terror, meus caros, é que, daqui a 20, no máximo 50 anos, "tratam-se de pessoas" será gramatical. Tal como "haviam homens que...".
Aproveitemos o presente instante de felicidade.
Sim, quem se debruçou sobre estas questões sabe que avarias destas estão sempre a acontecer, já aconteceram outras iguais e piores, e o próprio erro é factor de alteração e mudança nas línguas.
Mas, se alguns estão sempre prontos a ceder, e cedem até sem dar fé disso, alguém terá de resistir. RE-SIS-TIR (como agora me lembro que se dispôs na capa de um livro de Ernesto Sábato).
— Montexto
Que atire a primeira pedra quem nunca lhe saiu, na fala, um erro gramatical ou, na escrita, um erro de ortografia.
Cale-se quem não leu um escritor e o critica por ter ouvido dizer.
No "Livro", de José Luís Peixoto, revisão de Pedro Ernesto Ferreira, já vou na página 234, estou encantado e não me saltou há vista qualquer erro ou gralha (nem estou à pesca disso).
Os erros podem acontecer a qualquer um, não se nega isso. Já aqui vimos comentos com deslizes, cujos autores por vezes se corrigem logo após, sendo-lhes impossível editá-los. E podem ocorrer especialmente quando se escreve sob pressão de prazo exíguo, etc. Mas é para isso que servem os revisores; ou deveriam servir. E é contra eles, quase sempre, assim penso, que o Helder destina sua crítica mais ferina. Para os revisores ou para a falta deles, em empresas que não poderiam prescindir de seus serviços.
E também há a crítica para com os jornalistas que inventam moda e recorrem a estrangeirismos desnecessários - esses, sim, condenáveis com ou sem revisores.
No seu próprio comento, caro R.A., você escreve "não me saltou há vista". Erro proposital?
Não é preciso beber o tonel inteiro para saber se o vinho que contém é bom, já o deixou dito grande Óscar, e atente-se na perspicácia de certas pessoas que até sem ler nem ouvir acertam no alvo.
Mas de parabéns está o jovem Peixoto, que acaba de encontrar o leitor ideal: o nosso caro R.A., cujo forte não parece residir em «pescar» erros de escrita ou o que quer que seja. Talvez passe a ser, com a ajuda de leituras tão substanciais. Brindo a isso: Efe R.A. - Ahhhh!
- Montexto
Desisto!
Juro não mais comentar comentários de Montexto.
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