E gatos mortos
Por falar de coma: alguém escreveu (bons dias, F.) que Anúbis era o deus do embalsamento e protector dos mortos entre os Egípcios (já tem um cliente à sua espera em Charm el-Cheikh...). Ainda me lembro de o meu avô materno usar a palavra. Não, não era egípcio — fazia vinho. Embalsamamento é o acto ou efeito de embalsamar, ao passo que embalsamento é o acto ou efeito de embalsar, isto é, meter o vinho ou o mosto em balsas ou dornas. Já quando o vinho estava naquelas talhas enormes, algumas com séculos, juntavam-se-lhe maçãs descascadas e partidas em quartos e outros frutos. (Constava que havia quem também lançasse para lá gatos mortos... não existia ainda a ASAE.) Embalsamamento e embalsamento: houve especialização de sentidos, como tantas vezes sucede, sem embargo de alguns dicionários os dizerem sinónimos. Parece que se deu ali haplologia, mas no cerne da primeira está o vocábulo «bálsamo» e no da segunda, «balsa».
[Post 4454]
1 comentário:
Prezado Helder,
Sua análise está perfeita, mas, além de haplologia, há também ocorrência de aférese; 'balsamado', na acepção de 'corpo embalsamado, tem registro no Voc. hist-cronol. do Port. Med., de A. G. Cunha:
<< séc. XIV, TROY, II.15.4
[...] o corpo fuy moy bë balsamado que nõ seyse del mao cheyro.>>
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