No Alentejo
«Nas suas propriedades foram conservadas talhas de barro, datadas de 1667, utilizadas na feitoria do vinho» («Vinho envelhecido com tradição», Davide Pinheiro, Diário de Notícias, 8.02.2011, p. 48).
Nunca tinha visto tal. E os dicionários? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista que é o «processo de fabricar vinho»; para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, é a «manipulação, fabrico do vinho, do azeite»; para o Dicionário Houaiss, é o «processo específico para fabricar vinho». Fazia falta uma abonaçãozinha, acho eu.
[Post 4412]
7 comentários:
O Aulete Digital, por ser português, em verbete original, descreve com mais detalhes:
"(Tecn.) || Processo empregado no fabrico do vinho, em virtude do qual a uva pode ser pisada na lagariça de pedra ou de madeira, e aí mesmo passar o mosto e a balsa pelo trabalho de fermentação; fabrico de vinho."
Talvez se encontrem abonações na Port. e Bras., ou então, já que o exemplo vem do Alentejo, em «Através dos Campos», de José da Silva Picão, sobre a «re rustica» trastagana. Tenho esse livro, mas não comigo, de modo que não posso verificar.
- Montexto
Estive a consultar o índice de Através dos Campos, de José da Silva Picão, que já li, mas não se chega lá assim. Vou ter de reler.
«FEITORIA. P. us. Acção de fazer, fabrico, o mesmo que feitura: a feitoria do vinho; "O pessoal empregado na feitoria do sal», Charles Lapierre, "A Indústria do Sal", p. 26»: Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Infalíveis neste baixo mundo, só o Papa e a Port. e Bras., mas aquele é mais contestado.
Talvez também se topem exemplos em Fialho de Almeida e Brito Camacho, por exemplo em «O País das Uvas», «Quadros Alentejanos», «Gente Rústica» e «Por aí Fora» (que remata bem o apontamento).
- Mont.
O termo não deve ser muito antigo, pois não consta em Bluteau nem em Moraes1813; fica, por enquanto, o registro mais antigo em Aulete1881, que tem, ademais, a 'meia feitoria', verbis; "processo empregado no fabrico do vinho, em virtude do qual começa este a fermentar na lagariça e recebe aqui uma sova, indo depois concluir a fermentação na dorma ou balseiro."
Pensando melhor, cuido que há tantas probabilidades de encontrar abonações em autores e livros de e sobre o Alentejo como em quaisquer outros, porque o vocábulo não deve ser regionalismo ou provincianismo. Mas tem ar rústico, popular, e nada... moderno, portanto não duvido da sua pureza e legitimidade.
- Mont.
Alentejo revisitado:
«Vinho da Talha», artigo de Samuel Alemão na Revista de Vinhos, n.º 252, Nov. de 2010, p. 187 e ss:
«Todos os anos, pela altura das vindimas, dezenas de produtores da região, com especial incidência nas sub-regiões de Borba, Reguengos, Granja e Vidigueira, continuam uma técnica de [aqui chegado, quedei-me como o perdigueiro à espera do surto da perdiz «feitoria», mas saiu-me antes a subespécie] feitura de vinho assente na utilização dos recipientes de barro e que se caracteriza pela frugalidade de processos. “Se há característica definidora este [sic] género de vinho é a enorme simplicidade do seu processo produtivo”.»
Bem me lembro de ter visto fazer vinho deste modo no termo de Beja, mas não das palavras empregadas pelo lavrador a explicar-mo...
— Montexto
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