8.2.11

Regência de «desagradar»

Cada cabeça

      «O novo Acordo Ortográfico deverá chegar às televisões privadas até ao final deste ano. Situação que desagrada o director de Informação da TVI, Júlio Magalhães» («“Isto também é serviço público”, diz director de Informação da RTP», Márcia Gurgel, Diário de Notícias, 8.02.2011, p. 50).
      Desagradar (como agradar), no sentido de causar reacção desfavorável, é habitualmente transitivo indirecto, construído com a preposição a: desagradar a. Há mesmo autores que afirmam que é a única regência admissível para este verbo.

[Post 4414]

6 comentários:

Bic Laranja disse...

A unica regência que vejo é a do malfadado aborto gráfico.
Cumpts.

Anónimo disse...

É lá com eles.
O que se deve dizer é que é a mais comum e ultimamente muito mais usada. Mas «desagradar» está como «agradar», também largamente mais empregado como transitivo indirecto, mas de que não faltam exemplos clássicos do seu emprego como transitivo directo, e logo em Vieira, como reconheceu V. Botelho de Amaral em lugar que já aqui citei, não me lembra já onde, como sucede também com «rogar, suplicar, implorar, aconselhar» (cf. Mário Barreto, «Fatos da Língua Portuguesa», 1982, cap. XV).
Haja vista esta construção mui encontradiça em Vieira, como reconhecerá quem o converse amiúde: «Aos que mais o serviam, e o agradavam, pagava-lhe com a sua graça» («Sermão das Exéquias do Sereníssimo Príncipe de Portugal D. Teodósio, pregado no colégio da Companhia de Jesus de S. Luiz do Maranhão», in «Morte e Sepultura, Oratória Fúnebre», introd., selec., org. e notas de João Francisco Marques, Figueirinhas, 2009, p. 360).
Hoje porém são concebíveis gramáticos que não folheiem com mão diurna e nocturna os textos do idioma.
- Montexto

Paulo Araujo disse...

No Dicionário Eletrônico Luft, de regências:
DESAGRADAR
1. TI: desagradar a alguém; desagradar-lhe ou TD: desagradar alguém; desagradá-lo (OBS.). Int: desagradar. Não agradar; descontentar; desgostar; contrariar: "Esta notícia desagradou a seu pai" (Nascentes). "A própria morada a ninguém desagrada" (Provérbio). "Isto desagrada a todos. Isto lhes desagrada" (Jucá). "Quincas não desagradava o novo marido" (Autran). "… creio que jamais o desagradei pessoalmente" (Mário de Alencar: Nascentes). "… teve receio de desagradar o mestre" (José Lins do Rego: Lessa). "… e tive a impressão de que o desagradou sentir-se assim espiado" (Rachel de Queiroz: id.). "Mas ficou imóvel temendo desagradar Fräulein" (Mário de Andrade: id.). As últimas medidas do governo desagradaram.
OBS. Na língua culta escrita de registro formal (sobretudo para efeito de provas e concursos) ainda preferem a sintaxe desagradar a alguém, desagradar-lhe (TI); mas desagradar alguém, desagradá-lo (TD) foi uso clássico (cf. Nascentes, 1960: 88-9) e continuou sendo uso familiar e popular, talvez por força dos sinônimos descontentar, desgostar, contrariar (TD). Escritores brasileiros contemporâneos usam as duas regências: "… se nos quisermos estribar na nossa literatura modernista, não nos será lícito rejeitar, para esses dois verbos [agradar e desagradar], a construção não preposicionada ou com o pronome oblíquo o" (Lessa: 149).
2. TDpI: desagradar-se de ou (menos usado) com… Descontentar-se; desgostar-se: "Desagradou-se de minhas palavras (ou com minhas palavras)" (Jucá).

Anónimo disse...

Ora aí está.
Mas os novíssimos gramáticos não têm tempo de saber isso: andam ocupados nos tais cursos, recursos e contracursos, de formação, especialização, pós-graduação, actualização e outros aperfeiçoamentos e requintes com nomes arrevesados em bife, lendo os respectivos programas e bibliografia recheada de artigos, dissertações, teses e contrateses, escritas em várias e desvairadas línguas, mas, já se sabe, quase todas em bifecamone, como agora é da praxe, quase nenhuma em português, pelo menos em português de sujeito, verbo e caso.
- Mont.

Anónimo disse...

P.S. - Em português da casta do extractado no blogue «Tempo Contado», de J. Rentes de Carvalho, aos 29.11.2010. Queiram verificar a amostra.
- Mont.

Anónimo disse...

Montexto, aquele trecho lá citado parece ter sido escritor pelo famoso Gerador de Lero-Lero (recomendo-o fortemente para quem não o conhece; é de dar boas risadas). Mas não, infelizmente: não o foi.