5.3.11

Como se escreve nos jornais

De calças curtas

      «[Umberto Eco] Confirma com o interlocutor qual é a língua em que se vai falar. A resposta é o francês, que, aliás, tinha sido solicitado via agente anteriormente. De vez em quando, colocar-se-ão algumas palavras britânicas pelo meio, quando falta a expressão gaulesa exacta» («O terrorista intelectual», João Céu e Silva, «DN Gente»/Diário de Notícias, 5.03.2001, p. 2).
      «Via agente», «palavras britânicas», «expressão gaulesa»... E «colocar», meu Deus...
      E mais: «Ele é piemontês porque eu precisava de o pôr numa época histórica. Seria incapaz de me enfiar nas calças de um estrangeiro, enquanto nas de um piemontês isso é-me muito mais fácil.»

[Post 4525]

3 comentários:

Anónimo disse...

E por que há-de faltar a «expressão gaulesa exacta»? Se há língua aclamada durante séculos por exaata (e clara: «d’abord la clarté, puis la clarté, ensuite la clarté», a juízo de Anatole France as 3 principais qualidades do seu idioma — cit. de mem.) foi o francês. E ainda para Cioran uma coisa só existia verdadeiramente quando posta em francês. A Voltaire não consta que alguma vez faltasse a «expressão exacta». Se previam que lhes ia faltar a «expressão gaulesa exacta», optassem logo pelo «britânico», segundo o próprio Jorge Luís Borges, que sabia do que falava, uma língua boa para a poesia, mas nevoenta na prosa. Agora inverteram-se as qualidades? Que aconteceu? — Bárbaros e barbarização crescente!
— Montexto

Anónimo disse...

Acho que o artigo não se devia chamar «O terrorista intelectual» mas «O terrorista intelectual entrevistado pelo terrorista linguístico».

Anónimo disse...

Estamos no séc. XXI, não sei como vai ser... Mas, no que o pariu, esse título seria pleonástico: «intelectual» foi quase sempre sinónimo de «terrorista». Por isso, o grande Nelson (refiro-me desta vez ao Rodrigues), se lhe chamassem intelectual, saía a respostada: «Intelectual, eu?! Intelectual é você!»
— Mont.