25.3.11

«Dignar(-se)»

Resta indignarmo-nos

      Nas «Cartas à Directora» do Público de hoje, podemos ler uma resposta do Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Minho («na qualidade de representante dos alunos de Relações Internacionais desta instituição») a um artigo de 13 do corrente de Maria Filomena Mónica. Eis um excerto dessa carta: «A segunda pergunta é, no mínimo, irónica. E nós respondemos-lhe com outra pergunta: será que a doutora Maria Filomena Mónica se deu ao trabalho de olhar para o conteúdo e para o plano curricular das licenciaturas em Relações Internacionais? Quanto à qualidade dos docentes nem dignamos essa pergunta com uma resposta, por considerarmos que é demasiado desrespeitosa, ainda para mais vinda de alguém que também é docente.»
      Tiveram quase duas semanas para escrever a resposta, mas saiu isto. Nem dignar nem dignificar. Dignar-se é um verbo pronominal, regular, da 1.ª conjugação. Há verbos que guardam a forma reflexa facultativa, como ir-se ou ir, rir-se ou rir, sorrir-se ou sorrir, mas não este. Dignar-se, à semelhança de muitos outros, como abster-se, arrepender-se, ater-se, atrever-se, esforçar-se, queixar-se, etc., trazem preso a si, como disse o gramático Rocha Lima, um pronome reflexivo fossilizado. São, como alguns autores os classificam, verbos pronominais essenciais, por oposição a verbos pronominais acidentais. Terão já reparado que a forma pronominal é utilizada na maior parte dos verbos que indicam sentimentos.
      Esta é também a oportunidade para dizer que antigamente a gutural g não era articulada neste verbo e em vozes como benigno, maligno, etc. (E, por vezes, surgiu mesmo uma variante sem essa consoante, como «malino», ainda hoje usada e dicionarizada.)
      Já agora, as perguntas de Maria Filomena Mónica eram estas: «Os promotores da manifestação de ontem são todos licenciados em Relações Internacionais. Isto habilita-os a quê? Alguém se deu ao trabalho de olhar o conteúdo destes cursos? Os docentes que os regem sabem do que falam? Duvido» («Os mitras, os boys e os betos», Público, 13.03.2011, p. 3).

[Post 4609]


2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui sou eu que me dedigno de honrar a resposta de tão douta casa com um comento, mas vá-se lembrando sempre a tradição de que pelos frutos se conhece a árvore...
— Montexto

Bic Laranja disse...

Os verbos pronominais?! O que isso custa...
Cumpts.