Quem se queima que assopre
Garrett usou assossegar; Herculano, Camilo, Antero de Figueiredo e outros usaram também assossegar e asserenar, lançando mão de um recurso, a próstese, de origem claramente popular. No adagiário não faltam estes verbos, e sobretudo assoprar. Jorge Mourinha, na sua crónica de hoje no Público, no que me parece uma espécie de hipercorrecção (outros virão atrás de mim increpar-me a complacência), usou o verbo «cantonar»: «E falar dele [Artur Agostinho] como “homem da rádio”, como alguns noticiários fizeram, equivale a cantoná-lo num papel que, se foi o mais importante da sua carreira, foi apenas uma parte dele — e, ironicamente, a parte que menos dirá a muitos daqueles que hoje se recordam dele das novelas ou dos talk-shows onde era convidado regular» («Artur Agostinho», «P2»/Público, 24.03.2011, p. 10). (Quanto à substância da crónica, se é que pode descortinar algo remotamente parecido, pode ser resumida no último parágrafo: «Mas é significativo que tanto Júlia Pinheiro como Jorge Gabriel estivessem verdadeiramente emocionados ao encerrarem as suas emissões da manhã de terça-feira: isso diz mais sobre Artur Agostinho do que dezenas de obituários.»)
Em espanhol, sim, existe o verbo cantonar, que significa o mesmo que o nosso «acantonar» (e acantoar, variante). Quanto às formas prostéticas, não faltam, mormente na oralidade: alevantar, amostrar, alimpar, abaixar... E, imorredoiro, aquase.
[Post 4608]
2 comentários:
Sim, e «acredor» e «alacaio», que ainda não há muito ouvi. E de «cantonar» nem se fala. Mas, até quanto a «acantonar», tenho cá uma vaga lembrança de lhe terem torcido o nariz...
— Montexto
Sim, mas por ser francesia, questão diversa.
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