26.3.11

«Formato/forma»

Agora é pior

      Tudo nos conduz à língua. À merenda, a minha filha perguntou-me por que motivo o pão, um cacete, tem a forma que apresenta. (Diariamente, sou atingido com larguíssimas dezenas de porquês.) Lembrei-me logo de Fr. Francisco de S. Luiz e do seu Glossario das Palavras e Frases da Lingua Franceza, que aqui citei ontem. A propósito de «formato», do francês format, vocábulo agora ainda mais na berra, escreveu: «Não sabemos a razão por que tão vulgarmente se tem adoptado este vocábulo para significar a forma ou a grandeza do papel em que está escrita ou impressa qualquer obra.» E concluía, naturalmente, que em português legítimo dizemos «forma».

[Post 4617]


2 comentários:

Marcos Cóias e Silva disse...

Saudações,
E por falar em forma e em língua, parece que o acordo ortográfico melhorou a lígua portuguesa, tornando-a mais "atual". Estou em crer que é moda passageira, mas é caso para dizer: "que cacete!"

Anónimo disse...

Há barbarismos contra os quais já nada se poderá fazer, mormente os vocabulares; muito piores são os sintácticos. Mário Barreto faz uma breve apreciação do glossário do monge de Tibães, em Através da Gramática e do Dicionário, 1986, cap. LI, 7.º, p. 282-284. Extracto aqui somente isto: «No nosso tempo a doutrina do ilustre mestre Frei Francisco de S. Luís, cujo “Glossário de francesismos” tem já sobre si um século de antiguidade, não pode seguir-se à risca. O rodar dos anos, a influência do uso e a sanção que os escritores modernos mais autorizados deram a muitas das palavras e acepções condenadas pelo Cardeal Saraiva, fazem que nos pareçam intransigentes demais, muito demais às vezes, as censuras e sentenças do patriarca S. Luís. O seu “Glossário de galicismos” é livro de tanta exageração na sua doutrina que, em verdade, se torna coisa impossível o escrever sem cometer muitos dos vícios censurados pelo severo vernaculista. [...] Em matéria de neologismos e galicismos tenho a manga muito mais larga que a da mor parte dos antigalicistas. [...] Tolero tudo o que é novo e até aplaudo sempre que o merece.» — Mas atentai bem no que acrescenta: «somente censuro o neologismo quando é de todo inútil, mal formado ou feio.»
— «Memento»: «inútil, mal formado ou feio».
Mas, enfim, o Cardeal Saraiva, no seu tempo, estranhou-os e, exibindo-os, fez bem; mas alguns passaram no ordálio, foram-se entranhando, e o nosso bom Barreto já os aceitou. É a vida: «que as palavras como todos os seres, têm o seu nascimento, a sua idade madura, a sua velhice e a sua morte.»
— Montexto