18.4.11

Como se escreve nos jornais

Estamos bem, estamos

      «“Há ali muitas mulheres solteiras e sozinhas, rodeadas de homens atraentes. Eles exercitam, são giros e criminais, o que é também apelativo”, disse Yolanda [Dickinson], que publicou agora um livro sobre estas histórias, intitulado Taboo» («Ex-guarda relata noites de sexo na prisão», Carla Bernardino, Diário de Notícias, 15.04.2011, p. 58).
      E porque não completamente em inglês? «They’re working out. They’re attractive...They’re criminals, so they have a cunning way of approaching you.»

[Post 4699]

14 comentários:

Anónimo disse...

Concordo que seria melhor ter escrito completamente em Inglês. Era mais perceptível, até mesmo para quem fala mal Inglês...

Bic Laranja disse...

Valha-nos que após rebentarem com o português não há o inglês de escapar à voragem da imbecil globalização.
Cumpts.

Anónimo disse...

Aliás, em inglês compreende-se muito melhor. Porque aquilo para que se traduziu não é português nem idioma algum. Quando muito, será mais uma folga do idioma.
Costuma dizer-me um discreto que para se escrever poesia devia ser necessária licença de uso e porte. E, pelos vistos, também e até para se escrevinhar para o estimável público.
— Montexto

Paulo Araujo disse...

Confesso, sem querer parecer esnobe (eita, está em Cândido de Figueredo, 1899), que para mim foi mais fácil entender o inglês.

Bic Laranja disse...

Ao Prezado Paulo Araújo,
Lê-se dum fôlego, não sei se conhece, As «Lições de Linguagem» do Sr. Candido de Figueiredo; Anályse Crítica por J. Leite de Vasconcellos, 2ª ed., Porto, Magalhães & Moniz, 1893.
Cumpts.

Anónimo disse...

Grande descoberta, caro Bic. Essa ainda não me tinha vindo parar à mão. Toca a lê-la de fio a pavio.
— Montexto

Paulo Araujo disse...

Não conhecia o trabalho de Leite de Vasconcellos, mas sei das críticas que moveu Afonso de Taunay a Cândido de Figueiredo, muito bem documentadas por Gladstone Chaves de Melo, em seu livreto, 'Dicionários portugueses'. Sei das suas deficiências quanto à gramática, mas o dicionário dele teve admiradores, entre os quais Rui Barbosa.
Citei-o apenas para ilustrar a entrada de 'esnobe' na língua portuguesa, como hoje grafamos no Brasil. Não há língua sem empréstimos.

Bic Laranja disse...

Prezado Paulo Araújo,
Está melhor documentado então do que eu (não admira). Mas se me permite atrevo-me ainda a sugerir-lhe um termo que, se bem que informal, supre inteiramente o barbarismo: «cagão» (sem ofensa); mais depreciativo: «cagãozinho».
Só não se forma verbo a partir dele como no Brasil se faz com esnobar. Mas quem precisa disso quando se pode atirar logo: - "Lá estás tu armado em cagão!"
Cumpts. :)

Anónimo disse...

Deficiências do velho Cândido quanto à gramática? Tomara-as eu!
— Montexto

Paulo Araujo disse...

Apenas para ilustrar, dada a minha preferência pelos assuntos sobre o léxico, neste blogue, quando Figueiredo lançou seu dicionário (1899), em contraposição ao Aulete (1881), estes eram os mais modernos da língua, mas o de Figueiredo, inicialmente, acabou conquistando adeptos no Brasil pela grande quantidade de brasileirismos que continha - copiados ipsis litteris do "Diccionario de Vocabulos Brazileiros" (Beaurepaire-Rohan, 1889) e do "Vocabulário Brazileiro" (Rubim, 1852) -, e ainda hoje (por enquanto) datando-os no Houaiss com a sigla CF¹. Quando o Aulete emigrou para o Brasil (1958) conquistou a hegemonia, mantida até o surgimento do Aurélio. Sem querer parecer um que se julgue nobre, mas que é apenas um 'sine nobilitate'.

R.A. disse...

A palavra "cagão", na aceção que Bic refere, não é comum e não consta, por exemplo, do Priberam:
s. m.
1. Pleb. O que tem diarreia.
2. Fig. Homem medroso.
3. Pequeno copo de aguardente que se pode beber de uma vez.
4. Espécie de milho anão.

Nunca ouvi, nos salões que frequento, chamar isso aos snobes!
Aqui mesmo há alguns que são isso e não aquilo!
snobe (inglês snob)
adj. 2 gén. s. 2 gén.
1. Que ou quem mostra superioridade, arrogância e afetação.
2. Que ou quem que mostra admiração servil por tudo que está em voga ou é considerado distinto.
3. Que ou quem é excêntrico.

Bic Laranja disse...

Não é comum porque não consta no Priberam?!
Pois se logo de entrada ele dá o plebeísmo «o que tem diarreia»! Ponha esta acepção em sentido figurado que é o que faz o povo. O que o povo tem é ser povo, não frequenta salões.
Já agora note que o sentido figurado apresentado (medroso), esse sim, parece-me bem menos (ou nada) certo para «cagão»; certo será, sim, para «cagarola» ou para «cagado». Procure estes dois, mas desde já lhe digo que se o primeiro o há-de encontrar estranhamente com sentido de «poltrão» (o Lello Ilustrado de 1976 dá-o apenas e só no sentido de «medroso»), o segundo de certeza que a não encontra como substantivo ou adjectivo sinónimos de «medroso». Só que ele existe. Entenda, há mais linguagem além da sua, da minha, ou do Priberam.
Quanto a chamar snob à freguesia do «Assim Mesmo», bom... Vossemecê é que diz que frequenta salões.

C. Kupo disse...

Quanto ao livrinho de J. Leite de Vasconcellos, aqui referido pelo caro Bic, devo dizer que comecei a leitura e que estou gostando bastante.
Ainda merece destaque a qualidade da digitalização: um primor!

Anónimo disse...

Ora acabei de ler as tais Lições de Linguagem do Sr. Cândido de Figueiredo, de José Leite de Vasconcelos, que de teorias de linguagem sabia mais que o criticado, que por sua vez escrevia melhor que o seu crítico.
E pelo menos uma das bordoadas não foi merecida, a vibrada no n.º 14:
«Como um jornal escrevesse “As ‘Novidades’ vem há dias aconselhando”, objectou o nosso A. com isto: “‘Vem aconselhando’ não é da nossa língua”.
Mas em Bernardes, que é clássico de polpa, acho eu: “e vinha com o Emperador entrando para Roma”. — E mais exemplos eu podia citar.»
E eu não duvido de que pudesse citar mais e até muitos mais exemplos, caro mestre, mas exemplos como o de Bernardes, não como o do jornal, os quais, embora parecidos, são exemplos distintos, e não se devem confundir.
Caso já tocado por V. Botelho de Amaral, se bem me lembro.
— Montexto