Estilos e manias
É outro estilo, em que só interessa o erro, não o infractor. Estilos. «Há dias, na televisão (não interessa o canal), um entrevistado (pouco importa quem) disse uma frase que fixei e que aqui reformulo, com ligeiras alterações, porque me parece boa para um pequeno desafio: Há uma série de medidas importantes que são precisas tomar o mais depressa possível» (in Língua à Portuguesa, 31.03.2011).
A frase exacta foi esta, tão boa de analisar como a reformulada: «Há uma série de medidas importantes que serão necessárias adoptar o mais depressa possível.» Foi proferida pelo director do Diário de Notícias, João Marcelino, na RTP1 no dia 23 de Março passado, dia em que o primeiro-ministro se demitiu.
Já aqui vimos esta questão gramatical. É necessário apenas ver se o sujeito é uma oração, infinita ou finita, ou se é um nome, e como é este representado. No primeiro caso, o verbo fica no singular; no segundo, é feita a concordância. Voltaremos a esta questão.
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4 comentários:
«Há uma série de medidas importantes que são precisas tomar o mais depressa possível», «Há uma série de medidas importantes que serão necessárias adoptar o mais depressa possível»: estas frases só demonstram uma coisa, mas à saciedade (e à sociedade), convém a saber e a meditar, que quem as emprega carece do que Gide chamava o sentido da língua quando dizia que o próprio Malraux não o tinha: «il n’a pas une bonne langue, il ne connaît pas d’instinct son métier»; «ce qui écrit Malraux peut être fort intéressant, mais il n’a pas le sens de la langue» (Maria Van Rysselberghe, «Je ne sais si nous avons dit d’impérissables choses — une anthologie des “Cahiers de la Petite Dame”», Folio, 2006, págs. 439 e 485).
Já estais a ver que é achaque de que até o mais pintado pode padecer...
— Montexto
Eu diria «Há uma série de medidas importantes que é preciso tomar o mais depressa possível». Será assim tão difícil fazer estas opções?
RS
Não é difícil. Mas quem carece do tal sentido desgarra-se à mínima bifurcação de caminhos.
— Mont.
A propósito do blogue Língua à Portuguesa, aonde agora fui pela hiperligação: acabo de ler lá uma interessante análise da variação do verbo «haver» a exprimir passagem de tempo no discurso directo e no indirecto, a que já aqui me referi em anteriores comentos, em casos como: Directo: «O que fizeram há 3 meses?» Indirecto: «Ele perguntou o que tinham feito havia 3 meses.» Mas possível: «Ele perguntou o que tinham feito há 3 meses»; contudo, «esta última frase, com o verbo haver no presente, só se justifica quando o momento em que se concretiza o discurso indirecto é próximo, no tempo, do momento de enunciação do discurso directo (se os “três meses atrás” forem os mesmos para quem falou primeiro e para quem ouve o discurso indirecto). Concluindo: “há” não precisa de “atrás” para nada, quando falamos do passado. Mas “atrás” serve para substituir “há”, quando “há” deveria ser “havia”. A explicação que ficou para trás é confusa e provavelmente desnecessária... perdoem-me. A intenção era boa!»
Mais um matiz nada mal dilucidado...
— Montexto
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