As intermitências da gramática
Já me ocupei aqui («Todos se estatelam. Estatelam-se todos.») da colocação do pronome pessoal reflexo em frase começadas por pronomes indefinidos, como alguém, todos, muitos, etc. Desta vez, o erro é do Diário de Notícias (18.1.2006), na página 34, que escreve: «Ambos dedicavam-se à apanha da amêijoa.» Nestes casos, em que o numeral «ambos» inicia a frase, a gramática obriga a pôr o pronome «se» em próclise, isto é, a antepô-lo à forma verbal: «Ambos se dedicavam à apanha da amêijoa.»
3 comentários:
Mas como a norma é fixada a partir do "falatar" do grupo detentor de maior prestígio social (os mass media) quem quer saber da velha gramática normativa que se arrogava impôr normas de bem escrever e bem falar?! Que pode o dicionário, a gramática, a escola, que podem os *puristas*? Parece (dizem as pós-modernas teorias linguísticas) que um alto grau de subjectividade preside à distinção entre o correcto e o incorrecto. Portanto, o meu lápis vermelho é de uma prepotência jurássica quando assinala erros como "ambos dedicavam-se", "haviam muitos ratos na gaiola", "tu dissestes algo impróprio"... Gramática *apenas* descritiva, aberta, correndo deslumbrada e ofegante atrás das mais aberrantes situações de uso.
Ironizo, claro, mas com amargura.
Gostei de descobrir este blogue.
E já agora de corrigir os dislates que disse e escrevi:
a)descobri e frewquento o blogue há muito - queria dizer "esta entrada";
b)"impor" - é claro :(
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