16.2.06

Etimologia: amnistia

Para esquecer

Uma vez, ao balcão do bar da Casa do Alentejo, um desses desconhecidos que fazem sessões de psicanálise com o primeiro que topam num bar, auto-intitulado ex-inspector de uma das várias polícias que temos (seria do SEF?), tentou demonstrar-me que tinha sólidos conhecimentos jurídicos rabiscando num guardanapo de papel a hierarquia das leis. Não me recordo já se a pirâmide normativa lhe saiu totalmente mal. (A memória da situação vem-me, e juro que não é por causa dos vapores etílicos, em fragmentos: baixo, com o cabelo suspeitosamente negro e, incongruente, lembro-me que o isqueiro com que brincava tinha gravada uma águia.) Recordo, isso sim, que escreveu «amenistia». A essa personagem, a esse homem sem rosto, dedico este post.
A palavra latina amnestia, da qual deriva a nossa amnistia, é formada com o prefixo de negação a- e o substantivo mens, mentis. A etimologia é a da palavra «amnésia», com a diferença semântica de que esta última denota um esquecimento generalizado, ao passo que a amnistia é o esquecimento dos delitos ou crimes cometidos.
Na mitologia, temos a deusa Mnemósine a presidir à memória, que era considerada como uma das fontes da inspiração de escritores, artistas e mesmo de homens de ciência. Daí também os vocábulos «mnemónico» (relativo à memória), «mnemotécnica» (técnica para facilitar a memorização) e «amnésia» (esquecimento de tudo), entre outras. Creio que foi Vitorino Nemésio que uma vez brincou com o seu próprio apelido, dizendo-se «Mnésico». Ah, a memória…

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