Tudo muda
A Academia Francesa publica, com cada nova edição do seu dicionário, uma lista das palavras suprimidas. Com a 8.ª edição, foi suprimida, entre outras, a palavra «antanáclase», que tinha entrado no léxico francês no século XVIII. E agora?
A antanáclase (do grego antanáklasis, «repetição») é uma figura de estilo que consiste na repetição de uma palavra (significante) em diferentes sentidos (significados). É já clássico dar como exemplo uma frase de Pascal: «O coração tem razões que a própria razão desconhece.» («Le cœur a ses raisons que la raison ne connaît point», Pensées.) A polissemia está, muitas vezes, no cerne desta figura. A definição de Quintiliano (Institutio oratoriae, IX, 3) passou para os manuais:
«Cui confinis est quae antanaklasis eiusdem verbi contraria significatio. Cum Proculeius queretur de filio, quod is mortem suam expectaret, et ille dixisset, se vero non expectare: Immo, inquit, rogo expectes.» (Uma figura vizinha [da paronomásia] é a antanáclase, um sentido contrário de uma palavra. Como Proculeio reprovasse a seu filho esperar a sua morte, este respondeu que não esperava. Bem ― responde ele ―, peço-te que esperes.) Neste caso, tomaram-se os dois sentidos do verbo expectare: desejar, desejar e ter paciência.
Outro exemplo sempre citado de antanáclase é a perícope de Mateus 16,18: «Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam» (Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja). Na literatura portuguesa há variadíssimos exemplos de antanáclase, sendo o que se segue, de D. Francisco Manuel de Melo (Feira de Anexins, I, 1), um dos mais interessantes:
«Meus amigos, digo que me pelo por ouvir quatro equívocos. Se eles caem a pêlo, têm a sua galantaria; não já como muitos, que vêm pelos cabelos; apelo eu, que os dissesse.»
A Academia Francesa publica, com cada nova edição do seu dicionário, uma lista das palavras suprimidas. Com a 8.ª edição, foi suprimida, entre outras, a palavra «antanáclase», que tinha entrado no léxico francês no século XVIII. E agora?
A antanáclase (do grego antanáklasis, «repetição») é uma figura de estilo que consiste na repetição de uma palavra (significante) em diferentes sentidos (significados). É já clássico dar como exemplo uma frase de Pascal: «O coração tem razões que a própria razão desconhece.» («Le cœur a ses raisons que la raison ne connaît point», Pensées.) A polissemia está, muitas vezes, no cerne desta figura. A definição de Quintiliano (Institutio oratoriae, IX, 3) passou para os manuais:
«Cui confinis est quae antanaklasis eiusdem verbi contraria significatio. Cum Proculeius queretur de filio, quod is mortem suam expectaret, et ille dixisset, se vero non expectare: Immo, inquit, rogo expectes.» (Uma figura vizinha [da paronomásia] é a antanáclase, um sentido contrário de uma palavra. Como Proculeio reprovasse a seu filho esperar a sua morte, este respondeu que não esperava. Bem ― responde ele ―, peço-te que esperes.) Neste caso, tomaram-se os dois sentidos do verbo expectare: desejar, desejar e ter paciência.
Outro exemplo sempre citado de antanáclase é a perícope de Mateus 16,18: «Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam» (Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja). Na literatura portuguesa há variadíssimos exemplos de antanáclase, sendo o que se segue, de D. Francisco Manuel de Melo (Feira de Anexins, I, 1), um dos mais interessantes:
«Meus amigos, digo que me pelo por ouvir quatro equívocos. Se eles caem a pêlo, têm a sua galantaria; não já como muitos, que vêm pelos cabelos; apelo eu, que os dissesse.»
Sem comentários:
Enviar um comentário