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Puro e duro
Entre os usos das aspas não está — e se estivesse, escrever estaria muito acima das nossas forças — o de assinalar que estamos perante uma acepção secundária de um vocábulo. Para começar, desde logo, porque não existe essa coisa de «acepção secundária». Alguns vocábulos são polissémicos, mas as acepções nos verbetes desses vocábulos poderão ter uma ordem diferente de dicionário para dicionário. Para me reconduzir ao exemplo que quero usar, pensemos no vocábulo «havano». Se consultarmos uma qualquer edição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, lê-se: «havano, adj. e s. m. o m. q. havanês; diz-se de um charuto fabricado em Havana ou semelhante a este (De Havana).» Se optarmos, porém, por consultar o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências, podemos ver que as acepções se repartem por dois verbetes diferentes, e bem. Vamos ao exemplo.
«Era uma vez Luciano Liggio, aliás Lucianeddu, pintor de quadros, fumador de “havanos” e leitor de textos de Santo Agostinho» (Expresso/Única, «Pobre mafioso», texto de Rossend Doménech, tradução de Aida Macedo, 22.4.2006, p. 26). Para que servem aqui as aspas? Afinal são havanos ou não são? Se não são, porque são apenas charutos semelhantes ao havano, isso está previsto na definição: «charuto fabricado em Havana ou semelhante a este». Ou pretender-se-á insinuar que o mafioso fumava outras coisas? Nesse caso, seria o verbo fumar que precisava das aspas. Mas não é assim, e por isso as aspas são completamente escusadas. Devo dizer que este uso abusivo das aspas não é tão raro quanto se possa pensar. Comecem a reparar nisso.
Puro e duro
Entre os usos das aspas não está — e se estivesse, escrever estaria muito acima das nossas forças — o de assinalar que estamos perante uma acepção secundária de um vocábulo. Para começar, desde logo, porque não existe essa coisa de «acepção secundária». Alguns vocábulos são polissémicos, mas as acepções nos verbetes desses vocábulos poderão ter uma ordem diferente de dicionário para dicionário. Para me reconduzir ao exemplo que quero usar, pensemos no vocábulo «havano». Se consultarmos uma qualquer edição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, lê-se: «havano, adj. e s. m. o m. q. havanês; diz-se de um charuto fabricado em Havana ou semelhante a este (De Havana).» Se optarmos, porém, por consultar o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências, podemos ver que as acepções se repartem por dois verbetes diferentes, e bem. Vamos ao exemplo.
«Era uma vez Luciano Liggio, aliás Lucianeddu, pintor de quadros, fumador de “havanos” e leitor de textos de Santo Agostinho» (Expresso/Única, «Pobre mafioso», texto de Rossend Doménech, tradução de Aida Macedo, 22.4.2006, p. 26). Para que servem aqui as aspas? Afinal são havanos ou não são? Se não são, porque são apenas charutos semelhantes ao havano, isso está previsto na definição: «charuto fabricado em Havana ou semelhante a este». Ou pretender-se-á insinuar que o mafioso fumava outras coisas? Nesse caso, seria o verbo fumar que precisava das aspas. Mas não é assim, e por isso as aspas são completamente escusadas. Devo dizer que este uso abusivo das aspas não é tão raro quanto se possa pensar. Comecem a reparar nisso.