6.6.06

Orações coordenadas

Dependência ou igualdade?

Uma leitora pergunta-me se se pode designar como «coordenante» a primeira oração nas frases coordenadas. Começo por dizer que não é a primeira vez que alguém me faz esta pergunta, pelo que já reflecti algumas vezes na matéria. Quando me perguntaram da primeira vez, o argumento de quem perguntou era o de que não há orações coordenantes porque o termo nem sequer existe, do que discordei parcialmente. O termo «coordenante» existe (o Dicionário Houaiss, v.g., regista-o), o que não me parece que exista são orações coordenantes. Pois se justamente se trata de orações coordenadas, de natureza e funções idênticas, não há nem pode haver uma relação de dependência. Poderá haver relações que qualificarei, à falta de melhor designação, de precedência, como, por exemplo, na frase «Vai depressa e volta», cujos termos, em determinados contextos, não são intermutáveis. Não ignoro, contudo, que há quem defenda que existem orações coordenantes, como a Prof.ª Helena Mateus Montenegro, da Universidade dos Açores, na obra Glossário de Termos Gramaticais, em que se pode ler: «A caracterização das frases coordenadas como frases que não desempenham uma função de dependência entre si leva a que, geralmente, não se distingam em termos de nomenclatura uma da outra. Isto é, a maioria das gramáticas fala de frases coordenadas sem atribuir uma distinção entre coordenante e coordenada. A identificação de uma frase coordenante e de uma coordenada torna-se pertinente, se analisarmos a sua estrutura.»
É verdade que aprendemos que numa frase como «O João vê televisão e a Luísa lê o jornal» a primeira oração é a principal e a segunda, coordenada à principal. Creio, porém, que se trata de um problema de nomenclatura e não tanto de compreensão. Talvez a confusão, se confusão é, advenha do facto de também à oração subordinante se chamar principal, pelo que se terá entendido que designar como «coordenante» a «principal» no período coordenado seria o mais correcto, para evitar equívocos. Do que discordo, como afirmei, porque se pretende ver dependência onde a não há.

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