Corrijam Camões
Já aqui falei da doutrina de Soares Barbosa e de como ela se incrustou no cérebro de alguns gramáticos. Vejamos um exemplo d’Os Lusíadas que contraria essa regra prática. «Ó Neptuno, lhe disse, não te espantes/De Baco nos teus reinos receberes» (Os Lusíadas, VI, 15). Uma vez que Camões usou aqui um hipérbato, vamos lá pôr o verso por ordem lógica. Disse-lhe: Ó Neptuno, não te espantes de receberes Baco nos teus reinos. Camões pretendeu realçar inequivocamente o sujeito daquele «receberes», que é Neptuno e não Baco, e acautelar a interpretação, pois que o nome mais próximo da forma verbal é Baco. A própria figura de estilo obrigou ao uso do infinitivo pessoal. Soares Barbosa, como refere M. Said Ali na sua magnífica obra Dificuldades da Língua Portuguesa, considerou que Camões usou aqui indevidamente o infinitivo flexionado. Said Ali, por seu lado, demonstrou, curiosamente, que o verso de Camões estava duplamente certo segundo a teoria de Soares Barbosa: «1.º porque o infinitivo está regido de preposição e determina-se a pessoa; 2.º porque a regra primeira reza assim: Usa do pessoal 1.º quando o sujeito do verbo infinito he diifferente do do verbo finito, que determina a Linguagem infinita; ou póde haver equivocação sobre qual he o de quem se fala, ainda que seja o mesmo. Então esta Linguagem infinita para distincção dos dous sujeitos toma differentes terminações pessoaes, com as quaes se tira o equivoco. E mais adiante: E todo o caso é sempre para tirar qualquer equivocação ou incerteza que possa haver sobre se é ou não o mesmo sujeito de ambos os verbos.»
Já aqui falei da doutrina de Soares Barbosa e de como ela se incrustou no cérebro de alguns gramáticos. Vejamos um exemplo d’Os Lusíadas que contraria essa regra prática. «Ó Neptuno, lhe disse, não te espantes/De Baco nos teus reinos receberes» (Os Lusíadas, VI, 15). Uma vez que Camões usou aqui um hipérbato, vamos lá pôr o verso por ordem lógica. Disse-lhe: Ó Neptuno, não te espantes de receberes Baco nos teus reinos. Camões pretendeu realçar inequivocamente o sujeito daquele «receberes», que é Neptuno e não Baco, e acautelar a interpretação, pois que o nome mais próximo da forma verbal é Baco. A própria figura de estilo obrigou ao uso do infinitivo pessoal. Soares Barbosa, como refere M. Said Ali na sua magnífica obra Dificuldades da Língua Portuguesa, considerou que Camões usou aqui indevidamente o infinitivo flexionado. Said Ali, por seu lado, demonstrou, curiosamente, que o verso de Camões estava duplamente certo segundo a teoria de Soares Barbosa: «1.º porque o infinitivo está regido de preposição e determina-se a pessoa; 2.º porque a regra primeira reza assim: Usa do pessoal 1.º quando o sujeito do verbo infinito he diifferente do do verbo finito, que determina a Linguagem infinita; ou póde haver equivocação sobre qual he o de quem se fala, ainda que seja o mesmo. Então esta Linguagem infinita para distincção dos dous sujeitos toma differentes terminações pessoaes, com as quaes se tira o equivoco. E mais adiante: E todo o caso é sempre para tirar qualquer equivocação ou incerteza que possa haver sobre se é ou não o mesmo sujeito de ambos os verbos.»
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