7.8.06

Léxico: palimpsesto


Como uma cebola

«Este livro é conhecido como o Palimpsesto de Arquimedes, por conter vários textos deste autor escondidos sob várias camadas, correspondentes a várias utilizações de um mesmo pergaminho — uma prática comum na antiguidade [sic]» («Reveladas versões inéditas de tratados de Arquimedes em palimpsesto do século XIII», Ana Margarida Santos, Público, 4.08.2006, p. 29).
Nas palavras chãs mas significativas de algumas pessoas a quem perguntei o que entenderam desta definição de palimpsesto, «não apanhei nada». Culpa delas ou da jornalista? Eu diria que desta última. Vejamos a definição do Dicionário da Academia: «Manuscrito em pergaminho cuja escrita primitiva foi apagada, através da raspagem dos caracteres ou descoloração por meios químicos, para se lhe sobrepor novos escritos. Na Idade Média, a escassez e o elevado preço do pergaminho tornaram comum o uso dos palimpsestos. Um dos processos utilizados para avivar a escrita descolorida dos palimpsestos são os raios ultravioletas.» Contribuem para a pouca clareza da definição o uso dos vocábulos «escondidos» e «camadas», que remetem, ainda que não deliberadamente, para algo que o palimpsesto não é, e o facto — e isto foi expressamente referido pelas pessoas a quem pedi que lessem e interpretassem o texto — de o vocábulo «palimpsesto» não ser utilizado como substantivo comum, mas integrado num título ou designação.
Já que são tão dados a estudos, porque não vão para a rua e põem as pessoas a ler e a interpretar estes e outros textos? Experimentem.

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