29.11.06

Desfiar e desfilar

Outro rosário

Jornal 2:, 28.11.2006, Alberta Marques Fernandes: «Outra obra sobre a história recente de Portugal é assinada por Almeida Santos. Em dois volumes, o ex-presidente da Assembleia da República desfila as memórias do processo de colonização e descolonização das antigas províncias ultramarinas. O autor diz que já é possível essa abordagem porque o tempo ajudou a arrefecer a História.»
Deveria ter dito «desfia as memórias», isto é, narra, expõe em sequência, conta, pois que o verbo desfiar, em sentido figurado, significa isso mesmo. Se quisesse mesmo usar o verbo desfilar, em acepção semelhante seria intransitivo, e então diria, por exemplo: «Nesta obra de Almeida Santos, as memórias desfilam, apresentando um quadro do que tem sido a política portuguesa dos últimos trinta anos.» É parecido, sim, mas somente assim estaria correcto.
Alberta Marques Fernandes tem uma óptima dicção e o timbre de voz é muito agradável. Contudo, na pausa gráfica, obrigatória, que antecede a frase «Em dois volumes…», não se deteve, dificultando a compreensão da frase. Por outro lado, é comum respirar ruidosamente antes de começar cada notícia, o que é desagradável. Vejamos o que diz João Paulo Meneses a propósito da respiração: «Resta dizer que são conhecidos vários exercícios práticos de relaxamento, a começar pela necessidade de estar bem sentado — falar ao microfone de pernas cruzadas ou com a cadeira desnivelada relativamente à mesa é caminho certo para respirações turbulentas» (Tudo o que se passa na TSF — … para um «livro de estilo», p. 114). Antes, escreve o autor: «Como se não bastasse, o microfone é cruel, porque amplia os ruídos…»

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