A minha receita
Um vizinho ficou desempregado e com a indemnização quer estabelecer-se com um negócio. Talvez um barzinho, alvitrou. Já há muitos barezinhos aqui no bairro, disseram-lhe as mulherezinhas lá de casa.
Vejamos se a Dona Gramática concorda. O diminutivo (ainda há menos de um mês ouvi um escritor — um escritor! — dizer «diminuitivo») de «bar» é inequivocamente «barzinho». Já o plural pode dividir as hostes. O sufixo -zinho, amplamente analisado, em especial por estudiosos brasileiros, é muito mais complexo do que o sufixo -inho. Na verdade, é como se fosse um adjectivo colado ao vocábulo primitivo. O processo de pluralização de palavras com este sufixo é o seguinte: separe, no singular, o sufixo do vocábulo primitivo: bar-zinho. Seguidamente, ponha ambos os elementos no plural: bares-zinhos. Por fim, elimine o s da palavra original, e eis o diminutivo pluralizado: barezinhos. Como botão → botõezinhos; balão → balõezinhos; papel → papeizinhos; anzol → anzoizinhos; colar → colarezinhos; flor → florezinhas; pastel → pasteizinhos; coronel → coroneizinhos; mulher → mulherezinhas.
Chegámos aonde eu queria: já vejo muitas cabeças a dizerem que não. O que acontece é que, em Portugal como no Brasil, se verifica uma tendência para limitar o plural dos substantivos terminados em -r à terminação da forma derivada: colarzinho/colarzinhos; florzinha/florzinhas; mulherzinha/mulherzinhas. Contudo, esta é uma forma anómala — legitimada, porém, pelo uso —, que foge à regra culta. Certo é que, ao contrário de outros estudiosos da língua, José Manuel Castro Pinto, no seu excelente Novo Prontuário Ortográfico (Plátano Editora) adverte: «Seria purismo injustificado escrever mulherezinhas e amorezinhos, até porque o plural se forma instintivamente numa relação directa: mulherzinha > mulherzinhas» (p. 60 da 3.ª edição da referida obra). Não afirma, como outros fazem, que seria incorrecto escrever «mulherezinha», porque não seria. Digamos que o purismo está para o erro como um defeito para uma doença: não há uma diferença de grau, mas de natureza.
Um vizinho ficou desempregado e com a indemnização quer estabelecer-se com um negócio. Talvez um barzinho, alvitrou. Já há muitos barezinhos aqui no bairro, disseram-lhe as mulherezinhas lá de casa.
Vejamos se a Dona Gramática concorda. O diminutivo (ainda há menos de um mês ouvi um escritor — um escritor! — dizer «diminuitivo») de «bar» é inequivocamente «barzinho». Já o plural pode dividir as hostes. O sufixo -zinho, amplamente analisado, em especial por estudiosos brasileiros, é muito mais complexo do que o sufixo -inho. Na verdade, é como se fosse um adjectivo colado ao vocábulo primitivo. O processo de pluralização de palavras com este sufixo é o seguinte: separe, no singular, o sufixo do vocábulo primitivo: bar-zinho. Seguidamente, ponha ambos os elementos no plural: bares-zinhos. Por fim, elimine o s da palavra original, e eis o diminutivo pluralizado: barezinhos. Como botão → botõezinhos; balão → balõezinhos; papel → papeizinhos; anzol → anzoizinhos; colar → colarezinhos; flor → florezinhas; pastel → pasteizinhos; coronel → coroneizinhos; mulher → mulherezinhas.
Chegámos aonde eu queria: já vejo muitas cabeças a dizerem que não. O que acontece é que, em Portugal como no Brasil, se verifica uma tendência para limitar o plural dos substantivos terminados em -r à terminação da forma derivada: colarzinho/colarzinhos; florzinha/florzinhas; mulherzinha/mulherzinhas. Contudo, esta é uma forma anómala — legitimada, porém, pelo uso —, que foge à regra culta. Certo é que, ao contrário de outros estudiosos da língua, José Manuel Castro Pinto, no seu excelente Novo Prontuário Ortográfico (Plátano Editora) adverte: «Seria purismo injustificado escrever mulherezinhas e amorezinhos, até porque o plural se forma instintivamente numa relação directa: mulherzinha > mulherzinhas» (p. 60 da 3.ª edição da referida obra). Não afirma, como outros fazem, que seria incorrecto escrever «mulherezinha», porque não seria. Digamos que o purismo está para o erro como um defeito para uma doença: não há uma diferença de grau, mas de natureza.