1.12.06

TLEBS

A TLEBS, de novo

Nunca estive tão de acordo com Eduardo Prado Coelho, que afirma: «A mim parece-me mais importante que se ensine os usos da língua, e por exemplo a sua dimensão argumentativa (que Ducrot considera a sua essência)» («TLEBS», Público, 17.11.2006). Se a anterior Terminologia Linguística, de 1967, tinha falhas, e tinha, deveriam ser estudadas formas de as suprir. Substituí-la inteiramente, e da forma como foi feito, com a criação de uma terminologia tão complexa e diferente da que a gramática consigna há séculos, parece-me um absurdo. É como se pretendêssemos deixar de usar o léxico que enforma a língua portuguesa por ter lacunas e quiséssemos trocá-lo, à força, por outro inteiramente novo.
Mesmo supondo — e já é supor muito — que a TLEBS é um sistema coerente, a repercussão que terá (com sorte, não terá) na sociedade obriga todos os interessados a ter uma palavra. Esta questão é, como muito bem frisou a Prof.ª Maria Alzira Seixo no texto da Visão, de interesse público, «não é minudência de especialistas». Ora, não é isso que se vê.
Não acredito na inépcia dos professores enquanto classe (caso a caso já tenho muitas reticências, é claro), mas tenho fundadas dúvidas sobre a sua capacidade para dominar os conceitos operativos, e mesmo a lógica interna, da TLEBS a breve prazo. Afinal, não nos esqueçamos de que a TLEBS só deveria entrar em vigor depois de três anos de experiência pedagógica, o que não vai acontecer. Mesmo que os professores tenham muita vontade de cumprir, falta-lhes materiais de apoio e mesmo manuais que acolham já a nova terminologia. E, perante esta situação, como é natural, alguns professores receiam as inspecções que, diz-se, se farão para averiguar se estão a cumprir. Receios, creio, infundados, pois não acredito que o Ministério da Educação tenha pessoal preparado, a dominar os conceitos, suficiente para fazer essas inspecções.
Para acabar, pergunto-me e pergunto aos que defendem denodadamente a TLEBS: em que pressupostos se baseiam para acreditarem, e afirmarem, que a nova Terminologia Linguística poderá melhorar a competência linguística dos alunos? A avaliar pela própria incapacidade e perplexidade dos professores perante a TLEBS, diria que só se pode esperar o contrário. Depois de várias gerações a justificar a aversão aos clássicos, quando não a toda a literatura, pela análise sintáctica a que foram forçadas, dentro de alguns anos teremos muitos portugueses a justificar a incompetência linguística com a TLEBS. Nessa altura, os «15 000 professores de Português» («Está aberta a caça à TLEBS», Helena Soares, Público, 17.11.2006, p. 4) envolvidos na elaboração da TLEBS já cá não estarão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quando se puderem medir os resultados, dentro de uma geração, os políticos já não serão os mesmos (a actual ministra não se defende já, dizendo que a portaria foi assinada pela sua antecessora?), os que tiverem sobrevivido assobiarão para o lado e o país haver-se-á com cidadãos que falarão qualquer coisa (americano (?)- origem da maior parte dos conceitos da TLEBS - portunhol (?), novilíngua das mensagens electrónicas (?)), mas português não falarão certamente.

Anónimo disse...

A questão da gramática é séria, mas deixo-a para os especialistas, os meus conhecimentos não chegam a tanto.
Para mim, a questão verdadeiramente grave desta TLEBS é o carácter "experimental" da coisa: veio mostrar que o Estado português se pode permitir fazer experimentalismo com alunos do ensino básico, impunemente. Que pode impôr aos alunos da escolaridade obrigatória conteúdos programáticos que não estão validados cientificamente, que não estão comprovados. Não será isto inconstitucional? O que é que as crianças estão a aprender? Para quê? Validado por quem? A própria formação de professores ainda vai a meio...há casos em os professores "leram umas fotocópias"! E há fotocópias que se contradizem entre si sobre a nomenclatura de um mesmo termo. Mais: os pais não foram chamados a dar a sua autorização para que os seus educandos entrassem em "experiências-pedagógicas-piloto generalizadas a todo o país" Eu, pelo menos, não fui! E se fosse, não dava!

Hoje é a gramática. Amanhã vão experimentar com o quê? Com a Matemática? Com as Ciências da Natureza? Tenham a santa paciência...haja bom senso. Tudo se resume a bom senso.

Há quem seja contra as experiências em animais. Eu sou contra as experiências em crianças.
Não à TLEBS.